Resposta à moção de censura ao Governo do partido “CHEGA” (2ª parte)

Depois, e em relação ao SNS, é sempre bom recordar que o Serviço Nacional de Saúde tem na sua génese o PS e que tem também nele um seu defensor intransigente e determinado, tendo ficado demostrado à evidência, com a crise pandémica, a justeza da sua centralidade na defesa da saúde dos portugueses. Apontar as baterias críticas a uma ministra que se entregou de corpo e alma ao combate à pandemia é, no mínimo, injusto e errado. Tal como é errado olhar hoje para o SNS como se não tivéssemos tido dois anos de uma gravíssima crise pandémica que mobilizou grande parte do SNS para o combate.

Que há problemas que já vêm de trás todos sabemos, mas também devemos ter em consideração que se trata de um serviço universal altamente complexo, delicado, com uma procura sempre em expansão e que envolve elevadíssimos recursos humanos e financeiros. E, todavia, há um ponto que julgo não deveria merecer quaisquer dúvidas aos senhores deputados do CHEGA: o de que o PS tudo fará para dotar o SNS, em que acredita profundamente, da gestão e dos meios suficientes para garantir um seu eficaz e justo funcionamento, conforme teve oportunidade de reafirmar por diversas vezes o primeiro-ministro. Disso não tenham quaisquer dúvidas, porque, como sabem, o SNS está no ADN do Partido Socialista.

Em relação aos combustíveis, todos conhecemos as causas externas do aumento dos respetivos preços e a sua consequência nos preços dos outros produtos, mas até parece, atendendo ao teor da moção de censura, que o responsável por esse aumento é o PS. Mas não é. E, ao contrário do que afirmam, nem sequer (nem podia) tem sido insensível ao problema porque tem tomado importantes medidas de minimização do seu impacto sobre os bolsos dos portugueses. Medidas que todos os portugueses conhecem. Serão medidas sempre insuficientes dada a grandeza do problema gerado pelo aumento da inflação, mas foram todas aquelas que no momento eram possíveis. Também aqui, e ao contrário do CHEGA, o PS pode dizer que tem no seu ADN a solidariedade e a justiça social, em particular com os mais fragilizados pela crise ou pelas crises, tendo a cidadania, todos os cidadãos, no centro das suas preocupações.

E, finalmente, sobre o aeroporto e o incidente que se verificou, mas que foi prontamente sanado, a orientação do Governo é a que seria de esperar de um Governo responsável. Ou seja, a de procurar o maior consenso possível para que se adote, e rapidamente, a melhor solução para uma infraestrutura desta envergadura, tendo, como sabem, o atual líder do maior partido da oposição já manifestado abertura para uma solução consensual.

O PS tem bem consciência destes problemas e vai defrontá-los com a máxima determinação, com realismo e com vontade de os resolver. Mas para isso precisa de tempo, até pela intensidade dos problemas mais urgentes e de origem externa que nos estão a atingir. Bem sei que o CHEGA tem como filosofia o “tudo e já”, mas a verdade é que a propaganda tem limites, precisamente o que o bom senso recomenda.

Perante isto, que pensar de uma moção de censura que vai no sentido oposto ao querer manifesto dos portugueses e à legitimidade política que daqui decorre? Eu creio que o que o CHEGA pretende é pura e simplesmente palco, o mesmo palco que lhe tem oferecido vantagens políticas para crescer no panorama político português, colocando-se no topo da atenção social através de uma agenda radical, uma agenda que polarize a atenção pública, sobretudo a atenção mediática, tantas vezes com temas de rutura e estranhos à nossa própria matriz civilizacional. Uma agenda que já está a apontar o PS como partido com vocação absolutista, não porque tenha uma prática com essas características no longo tempo que já leva de governo, mas sim pela simples razão de os portugueses lhe terem dado uma maioria absoluta. Como quem diz: “tens maioria absoluta és absolutista e totalitário”. Mas eu lembro-lhes que também aqui o PS tem no seu ADN a liberdade, esse valor que o seu líder e fundador Mário Soares praticou ao longo de uma vida, ao longo da sua carreira política, antes da democracia e em democracia, sendo certo que o PS nunca se desviou nem desviará um milímetro desta sua matriz de liberdade.

Não tem, pois, sentido, esta moção de censura. É extemporânea, nega validade ao voto popular, é errada e é injusta. Por isso deve ser liminarmente rejeitada.

* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda e presidente da concelhia socialista da Guarda

Sobre o autor

António Monteirinho

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