A escola de hoje, entre tantos problemas, esbarra, amiúde, na pouca predisposição dos alunos para aprender o que ela tem para lhes ensinar. Se antes, apesar dos métodos expositivos e estáticos, sempre ia ajudando a revelar outras realidades, agora não conta com as antigas limitações de comunicação. E a transmissão do saber, mesmo do formal, vai assim deixando de ser exclusiva duma escola que raramente se posicionou na vanguarda do conhecimento e da tecnologia, só adotando, na maioria das vezes, as inovações que deles advêm por resignação. Uma escola que tende apenas a ficar refém dos propósitos de regime e a esvaziar a sua função educativa. E fá-lo, despudoradamente, em nome do progresso e da igualdade. Quando, numa lógica de oferta e procura, só pretenderá é atribuir a cada aluno um valor suscetível de se transacionar no universo laboral.
Ora, num tempo em que isso pode ser feito por qualquer um, em qualquer altura e lugar, sem atavismos nem quaisquer outros constrangimentos, a escola, entalada entre o fogo e a frigideira, poucos sinais dá de se querer ver livre dali para fora. Pelo contrário, persiste em compartimentar o conhecimento, através do desenvolvimento curricular, em oferecer respostas educativas estanques, rígidas e desadequadas que podem até satisfazer necessidades de produtividade económica e de estratégia política, mas nada dizem às crianças e jovens de hoje. Esta escola foi imprescindível à sociedade pós industrialização, mas não me parece que sirva para grande coisa à sociedade pós tecnologização. Talvez, por isso e em desespero de causa, vá tentando disfarçar o facto com a introdução de conceitos subjetivos e, frequentemente, incompatíveis entre si, como “avaliação”, “flexibilização curricular”, “exigência” e “inclusão”. Expressões sonantes que alegadamente permitirão, a todos os alunos, aceder a um currículo. Para dar mais credibilidade a esta intenção, nas salas de aula atualizaram-se já as tecnologias, substituindo os anteriores suportes (papel, quadro, retroprojetor) por suportes digitais e diz-se que os métodos de ensino se atualizaram. Introduziram-se uns “espaços de reflexão” e umas “estruturas diretivas intermédias” e diz-se que a organização das escolas se otimizou. Transferiram-se os alunos das escolas de ensino especial para as do regular e diz-se que escola já é inclusiva…
Paradoxalmente, a par destes esforços todos, poucos “pedagogos” de serviço sabem, ou querem saber, o que dizem, sobre tudo isto, Ainscow, Roldão ou Bernstein. Para além de que, se bem que muitos deles se confessem fãs de Montessori e Paulo Freire, acabam, pressionados pelo sistema de avaliação, própria e dos alunos, dizem, a replicar a máquina de ensinar do Skinner. Bem, assim, a escola, podendo não conseguir formar melhores cidadãos, ao menos não descontinua os diplomados. Que isto seja suficiente para a salvar é que já duvido. Mas sou até capaz de acreditar que talvez escape se, como defendia Agostinho da Silva, passar a ser como as farmácias: aberta 24 horas, por dia, para quem precisar lá possa ir.