Ranking das escolas: verdade, ilusão ou pavor de olhar para os resultados?

” No distrito da Guarda não encontramos nenhuma escola entre as 100 primeiras, o que é mau, por muito que queiramos desvalorizar o ranking”

A divulgação do ranking das escolas volta a ser polémico e a evidenciar a liderança do ensino privado. As escolas privadas estão no topo do ranking como nunca; a escola pública volta a perder na classificação ou pelo menos os primeiros lugares do topo da classificação…
O ranking “vale o que vale” e representa, supostamente, um olhar sob o prisma do desempenho dos alunos que realizam exames no final do ensino secundário. Podemos valorizar a ordem e considerá-la relevante; podemos ver o ranking como uma mostra de desigualdade; ou um instrumento de trabalho e análise; ou como um retrato de um determinado momento e uma ferramenta para discutir medidas ou caminhos a promover. O que não podemos é passar um atestado de irrelevância e passar à frente como se não existissem; como não podemos olhar para os rankings como o centro de todo o universo escolar, que não é.
As escolas são de fato muito mais do que os resultados dos exames nacionais e, obviamente, os rankings devem ser lidos de forma relativa. Como a Confederação Nacional das Associações de Pais resumiu, «a escola é muito mais do que o resultado de um exame» e os resultados apresentados são definidos por vários fatores que, num dado momento e com contextos muito diferentes, determinaram aqueles resultados.
Como bem sabemos, a escola pública tem de ser inclusiva, ensinar muito para além do contexto social e económico e receber todos os alunos “como iguais”, e não podemos comparar o incomparável. O ensino privado pode permitir-se a escolher os alunos e a prepará-los convenientemente para os exames. Porém, a escola pública não se pode “esconder” por detrás das diferenças de contexto para sustentar os resultados negativos ou menos bons – a generalidade dos alunos do público com bons resultados tem explicações extra, com custos elevadíssimos para as famílias, porque a escola pública se demite ou não consegue ensinar e elucidar os alunos para terem melhores resultados e as notas necessárias para responder a um sistema injusto, arcaico e castrador de numerus clausus. A escola pública vive hoje neste mito do serviço público que independentemente dos resultados cumpre a sua função e não tem de analisar criticamente a sua missão, desempenho e disponibilidade para tirar as dúvidas ao aluno – quem tem dinheiro paga explicações ou escolhe o ensino privado com aulas extra para tirar dúvidas e haver melhor preparação para os exames. Os rankings não têm nada a ver com melhores escolas ou melhores professores… ainda que a forma como os que estudam ou lecionam nas escolas mais bem classificadas se regozijam pareça.
No distrito da Guarda não encontramos nenhuma escola entre as 100 primeiras, o que é mau, por muito que queiramos desvalorizar o ranking. E se gostamos de dar os parabéns pelo bom desempenho dos melhor classificados, como a Secundária da Sé, na Guarda, que foi a escola do distrito melhor classificada, em 107º, não podemos deixar de nos interrogar sobre a descida reiterada no ranking da Afonso de Albuquerque, que, há alguns anos, estava entre as primeiras 100 do país e era uma referência regional e este ano foi a 313ª (Perdeu qualidade? Os maus resultados são culpa dos alunos externos? A idade e o cansaço dos professores contribuem para a menor preparação ou esclarecimento dos alunos? O foco não é ter as melhores notas? O absentismo de alguns está a prejudicar o todo? As condições da escola, dos problemas da cantina à sua dimensão, é um problema com consequências nefastas que tem sido desvalorizado? A falta de exigência da comunidade é aceitável? Os pais devem continuar em silêncio? Ou não há problema nenhum e o ranking é um mau retrato que não merece análise, comentário ou preocupação por parte das famílias ou da academia, até porque há muitos alunos com excelentes resultados?). Também o facto de estarmos no interior não pode ser desculpa para o que quer que seja, até porque se a escola com maior percentagem de 20 foi o Colégio Efanor (Porto) com mais de 10% das notas entre os 19,5 e o 20, a escola com mais 20 a nível nacional foi, mais uma vez, a Secundária Alves Martins, em Viseu, com 13.
Independentemente da opinião ou relevância dos rankings, este é um momento de protagonismo da escola e deve ser também uma oportunidade de reflexão sobre o presente e o futuro da escola, enquanto ponto de encontro do conhecimento, da formação e da educação essencial para o desenvolvimento de qualquer sociedade.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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