O pâncreas é um importante órgão do nosso aparelho digestivo, produtor de enzimas ou fermentos essenciais à digestão, mas também de muitas hormonas libertadas na circulação e com um papel fundamental no nosso metabolismo, como a insulina.
Os quistos do pâncreas geram uma compreensível preocupação por dois motivos: o aparente aumento da sua frequência na população, mas, sobretudo, o receio do risco de malignidade. Tentaremos trazer alguma luz sobre estes aspetos da patologia.
O que são os quistos pancreáticos? São formações preenchidas por um líquido que crescem dentro ou na dependência do pâncreas. Estes quistos têm uma parede constituída por diversos tipos celulares e o seu líquido tem igualmente uma constituição química e biológica bem diversa. O aumento atual da sua frequência é fruto da maior vulgarização dos exames de imagem e não propriamente do aumento da sua incidência na população. A real frequência e incidência destes quistos é, na verdade, desconhecida. A esmagadora maioria são detetados em exames de imagem (Ecografia; TAC; Ressonância) realizados por outros motivos.
Na maioria dos casos, a causa destas formações quísticas pancreáticas é desconhecida, embora se admita que mutações genéticas, fatores ambientais e inflamatórios ou o envelhecimento estejam na sua origem. Muito raramente, fazem parte de uma doença hereditária.
Abordando a malignidade ou o seu potencial risco, os quistos pancreáticos podem ser neoplásicos ou não neoplásicos. Estes últimos não têm potencial para ser malignos, o que não acontece com os neoplásicos. De qualquer modo, raramente um quisto pancreático é o início de um cancro do pâncreas.
Também os denominados pseudo-quistos não têm malignidade. Como o nome indica, são falsos quistos, bolsas de líquido e suco pancreático que se formam como complicação das pancreatites.
A maioria dos quistos não causa qualquer sintoma. Porém, poderão fazê-lo se o seu tamanho for suficiente para causar obstrução do canal pancreático, dos canais biliares, do estômago ou duodeno. Poderá então surgir pancreatite, icterícia, mau esvaziamento do estômago, entre outras.
O diagnóstico e o estudo dos quistos pancreáticos é realizado por exames de imagem e ecoendoscopia – um exame endoscópico com uma sonda de ecografia incorporada e que permite ainda realizar uma biópsia dirigida do quisto, assim como colheita de líquido para estudo.
O recurso à cirurgia como tratamento destas lesões tem indicações e protocolos baseados no risco de malignidade. A cirurgia do pâncreas é sempre desafiante. Felizmente, a maioria dos quistos pancreáticos não requer cirurgia, apenas vigilância periódica com exames de imagem para investigar e detetar precocemente alterações suspeitas. Os novos avanços dos meios de imagem e da ecoendoscopia melhoraram grandemente o diagnóstico, a vigilância e as opções para um tratamento baseado na evidência.
* Coordenador de Cirurgia Geral no Hospital CUF Viseu
N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.