Pobretes mas alegretes

“Os custos com a Jornada Mundial da Juventude são um excesso inaceitável.”

1. O Portugal dos brandos costumes, oásis da estabilidade e segurança, parece ter-se desmoronado e, em poucos meses, passou a ser um país de sobressalto, contestação e agitação social. A rua voltou. E a tensão social também. Depois de anos de acalmia e tranquilidade social, em que as greves pareciam limitadas à CP e a alguma situação especifica e quase sempre resolvida sem grande tensão, depois da cumplicidade promovida pela “geringonça” e quando parecia que a maioria poderia governar sem percalços, a rua voltou em força e obrigou António Costa a corrigir a sua postura majestática do “habituem-se” para uma evidente necessidade de ouvir e ceder.
Os escândalos das nomeações para o Governo abriram uma caixa de pandora difícil de fechar; a indeminização milionária na TAP tem mais impacto que os 3,2 mil milhões de ajudas públicas para salvar a companhia aérea (e que deverá ser vendida por 900 milhões de euros); a luta dos professores não tem fim à vista; as greves setoriais vão aumentar; as manifestações e descontentamento em toda a sociedade vai em crescendo. A inflação destapou a panela de pressão em que os portugueses vivem.
Portugal passou a ser o 8º país da UE27 com maior proporção da população a viver em vulnerabilidade social e económica (segundo o Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza). Com 10 milhões de habitantes, 22 por cento da população portuguesa é pobre ou vive em risco de exclusão social (se não houvesse apoios sociais seriam cerca de quatro milhões em risco de pobreza). Um país com 3.955.791 trabalhadores, mas que produz pouco e não consegue gerar riqueza. “Em casa onde não há pão…”, diz o povo com mais ou menos razão: Só 319.579 portugueses (8% dos que trabalham) têm remuneração mensal acima dos 2.000 euros; 587.729 (14,8%) têm remuneração acima dos 1.500 euros; e 2.159.534 (54,6%) auferem salário acima dos 800 euros, enquanto o salário mínimo passou a ser 760 euros… Assim, num país pobre, e de pobres, todos reclamam legitimamente que querem ganhar mais. Mas há dinheiro? Não basta defender mais justiça social, ou recordar os valores da Revolução francesa (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) é preciso que o país produza mais e seja possível aproveitar melhor os recursos e gerar mais riqueza. Se houvesse mais ricos também haveria mais redistribuição por todos.
Perante tudo isto, naturalmente, os custos com a Jornada Mundial da Juventude são um excesso inaceitável. Porém, não tenho um discurso obtuso e populista contra tudo, nem me parece errado o investimento – a requalificação da antiga lixeira de Lisboa, entre o Parque das Nações e o Rio Trancão é uma intervenção que permitirá uma qualidade ambiental há muito adiada. O que é inaceitável é o palco e o altar pretensioso e excessivo. Pobretes mas alegretes! A modéstia e o bom senso não estiveram presentes no momento de decisão – e tardiamente, mas bem, o Presidente da República interveio para pedir mais parcimónia e moderação nos custos.
2. Depois de ter sido anunciada, a FIT foi cancelada pois o presidente da Câmara da Guarda considera que não deve gastar mais de um milhão de euros na Feira Ibérica de Turismo. Na verdade, não conhecemos nenhum estudo que evidencie o impacto que a FIT teve na Guarda para justificar este investimento e duvidamos que seja neste momento um projeto estruturante para a Guarda. Mas sabemos que esta decisão devia ter sido transmitida aos demais vereadores em reunião de Câmara e não o foi. Foi apresentada aos jornalistas depois da reunião do executivo com a oposição a saber pelos jornais. E sabemos que Álvaro Amaro, o “pai” da FIT, considera um erro grave não realizar uma feira que, na opinião do antigo presidente da Câmara, é estratégica para a Guarda. Em declarações ao Altitude, sobre a FIT, Álvaro Amaro acabou de cravar mais um prego na relação com Sérgio Costa.
Entretanto a Câmara da Guarda apresentou o programa de carnaval “GuardaFolia 2023”, que deverá mesmo ocorrer… afinal não se suspende tudo na cidade da Guarda!

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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