Paleomagnetismo

Escrito por António Costa

«O paleomagnetismo dá resposta, na medida em que analisa o que poderíamos chamar de “memória” magnética das rochas»

Há mais de 100 milhões de anos, a Terra era muito diferente de como a conhecemos agora. Não só era habitada por dinossauros, como a disposição dos oceanos e dos continentes era também diferente. E há 200 milhões de anos os continentes estavam unidos numa única massa continental que se designou por pangeia. A partir desse momento, a geografia da Terra tem vindo a mudar incessantemente. Mas como se pode conhecer essa constante vida ativa do planeta se tudo ocorreu há milhões de anos? O paleomagnetismo dá resposta, na medida em que analisa o que poderíamos chamar de “memória” magnética das rochas.

Datar as rochas é fundamental para determinar a idade dos fósseis descobertos em cada estação arqueológica, bem como para estabelecer as relações entre as espécies que representam e o meio geológico que elas habitaram. Esta disciplina permitiu o estudo de placas tectónicas, dos seus movimentos, da formação das cadeias montanhosas e de outros fenómenos geológicos. O princípio básico deste sistema é a utilização do campo magnético da Terra, que possui dois polos, um negativo e outro positivo. Mas estes polos mudam com o tempo. Atualmente, o polo positivo deste campo magnético encontra-se no Polo Norte, o que explica que as agulhas de íman das bússolas apontem para Norte.

Contudo, esta situação não foi constante ao longo do tempo geológico. Sendo ainda, em parte, desconhecidas as causas, o campo magnético inverteu a sua polaridade em numerosas ocasiões no passado. Nesses momentos, o polo magnético positivo situou-se perto do Polo Sul, pelo que nessas épocas as bússolas apontariam para o Sul. Esta situação é conhecida como polaridade inversa, em contraposição com a atual, que se chama polaridade direta.

As rochas “falam” quando nos mostram o tipo de magnetização que os minerais ferrosos do seu interior sofreram a altas temperaturas. Como as da lava líquida de um vulcão, os minerais orientam-se de acordo com a polaridade do campo magnético do momento. Quando a lava arrefece e solidifica, essas “impressões” ficam gravadas no seu interior, já que mantêm a sua polaridade. As rochas vulcânicas podem ainda ser datadas com recurso à técnica de potássio-árgon e, consequentemente, podemos saber de que forma uma determinada data corresponde um dado tipo de polaridade magnética.

Os fundos marítimos são de natureza basáltica (rocha vulcânica), bem como algumas regiões dos solos continentais, o que permitiu estudar as modificações no magnetismo terrestre nos últimos milhões de anos e estabelecer uma escala cronológica destas alterações. Sabemos que a situação atual, de polaridade direta, teve início há 780.000 anos e que entre essa data e há pouco mais de 2,5 milhões de anos a polaridade predominante no planeta foi a inversa.

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António Costa

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