Lietuga

«Por isso, a impressão que tive de meia hora na Alemanha só serviu para confirmar os meus preconceitos – é um povo que tem a mania que sabe mais que os outros, e lá é sempre tudo a correr»

Escrevo esta crónica – e as dos próximos meses – de Užupis, uma autodeclarada república independente rodeada pela cidade de Vilnius, a capital da Lituânia.

À hora que escrevo, na rua, estão 4 graus abaixo de zero, com sensação de menos 12. Nas partes que não estão limpas, a neve tem seguramente uns vinte centímetros de altura.

Vilnius, como o resto da Lituânia e grande parte da Europa, encontra-se em confinamento geral. No entanto, apesar das limitações à circulação e do frio, há imensa gente a passear nas ruas e nas várias zonas de floresta que existem na cidade. Não que eu possa ter visto, porque a lei me obriga a 14 dias de quarentena depois da minha chegada, mas porque ouvi dizer. A lei permite-me sair de casa para procurar ajuda médica ou tratar de assuntos oficiais, por isso, no domingo fui procurar um médico e um agente da imigração num bosque perto de Jeruzalė. Não encontrei, voltei para casa.

Na viagem de Lisboa para Vilnius, um dia antes de Mariana Vieira da Silva anunciar ao país que ninguém entra, ninguém sai, passei pela primeira vez na Alemanha. Como eurocéptico, toda a vida tinha evitado o eixo franco-alemão, mas a suspensão dos vôos entre Madrid e Vilnius levou-me a optar por fazer escala em Frankfurt. Não fiquei bem impressionado com a vida na Alemanha. Atrasaram-me a saída do avião para a polícia alemã confirmar o que a portuguesa já tinha verificado – o resultado negativo do teste à Covid – e fizeram-me correr da porta 30 à 17 para apanhar a ligação para Vilnius. Por isso, a impressão que tive de meia hora na Alemanha só serviu para confirmar os meus preconceitos – é um povo que tem a mania que sabe mais que os outros, e lá é sempre tudo a correr.

As escolas e universidades aqui também estão fechadas, os restaurantes só servem take away, os cabeleireiros e barbeiros não trabalham, mas pelo menos é possível comprar roupa e acessórios – botas, luvas, gorros – nos hipermercados. Com a proibição de vender roupa nos hipermercados, o vosso governo de Costaline deve imaginar que todos os portugueses têm em casa um closet cheio de camisolas interiores e botas de inverno.

Desejo-vos, desde o Norte, boa sorte. Pela competência já não adianta esperar.

 

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Nuno Amaral Jerónimo está em Vilnius a convite da Vilnius Tech University

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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