Os primeiros prognósticos meteorológicos

Escrito por António Costa

“Com o desenvolvimento da agricultura, tornou-se uma necessidade conhecer com antecedência as mudanças meteorológicas (a chegada de chuvas, as possíveis geadas, o temido granizo…). “

As origens da previsão do tempo remontam praticamente às origens da humanidade. Os antepassados, ao observarem a abóbada celeste, começaram a estabelecer as primeiras regras de previsão baseadas nas tonalidades do céu, no tipo de nuvens e, um pouco mais tarde, no local de origem do vento. Foram-se dando conta que as mudanças de aspeto do céu se traduziam, em geral, em mudança de tempo. Isto era muito importante para eles, na medida em que a sua sobrevivência dependia, em grande medida, do fator ambiental.

Com o desenvolvimento da agricultura, tornou-se uma necessidade conhecer com antecedência as mudanças meteorológicas (a chegada de chuvas, as possíveis geadas, o temido granizo…). Os prognósticos do tempo baseados nas fases lunares ou nas posições dos astros adquiriram grande popularidade e deram lugar a um sem-fim de teorias extravagantes que, sempre segundo os seus autores, apoiavam esses vaticínios.

A previsão meteorológica baseada no método científico só surgiu em meados do século XIX, pela mão do afamado astrónomo da época, o francês Urbain Le Verrier (1811-1877), responsável pelo Observatório de Paris. Nessa altura já eram realizadas observações meteorológicas diárias nas principais cidades europeias, embora ainda não se contasse com a capacidade de elaborar prognósticos. Esta circunstância mudou rapidamente graças a um episódio meteorológico ocorrido durante a contenda militar da Guerra da Crimeia e à rápida expansão que o telégrafo conheceu naquela época.

Na Guerra da Crimeia, que ocorreu entre 1853 e 1856, os russos enfrentaram ingleses e franceses. A 14 de novembro de 1854, um fortíssimo temporal destruiu a maior parte da frota anglo-francesa que se encontrava ancorada no porto de Balaclava, na costa do Mar Negro. Como resultado desse incidente, qualificado como furacão em algumas crónicas jornalísticas da época, o então imperador de França, Napoleão III, encarregou Le Verrier de investigar o assunto para saber se aquela situação meteorológica tão extraordinária poderia ter sido antecipada.

Le Verrier visitou então diversos observatórios da Europa para recolher dados meteorológicos e, a partir deles, deduziu que um sistema depressionário (uma zona de baixas pressões) muito profundo se fora deslocando por vários países europeus antes de alcançar a península da Crimeia, onde teve lugar a derrota. Concluía Le Verrier na sua análise que se esses dados tivessem sido conhecidos com antecedência suficiente, o desastre poderia ter sido evitado ou, pelo menos, minimizado, pois ter-se-iam enviado os avisos telegráficos pertinentes às tropas ali estacionadas. Le Verrier sugeriu a instalação de uma pequena rede de estações meteorológicas nos arredores de Paris, ligadas por telégrafo, com o objetivo de emitir avisos de mau tempo em caso de necessidade. A partir desse momento, a preparação e transmissão das previsões meteorológicas tornaram-se tarefas rotineiras para os observatórios.

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António Costa

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