No dia 25 de Abril de 1974 (uma 5ª feira) eu vivia em Luanda.
Tinha sido convidado como assistente da Universidade de Luanda (Curso de Engenharia Química) pelo meu professor Rodrigo Guedes de Carvalho, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), que também era o responsável pelo Curso em Luanda.
Foi assim que cheguei a Luanda nos finais do ano de 1969. Umas semanas antes do 25 de Abril, em 16 de março, já tinha acontecido a “Revolta das Caldas”, mas que teve apenas um impacto ligeiro em Angola. No dia 25 de Abril de 1974, como habitualmente, fui almoçar a casa. Morávamos no Largo dos Lusíadas, no conhecido Prédio Cuca, que tinha um enorme anúncio da cerveja.
Subi no elevador com a minha mulher e o meu filho de 3 anos. No elevador, um amigo que trabalhava na Petrangol, segredou-me: “Os Belgas da Petrangol disseram-me que está a haver qualquer coisa lá em Lisboa. Vamos já ouvir o noticiário!”
Entrei em casa e fui logo para o rádio ouvir as notícias, que como de costume foram anunciadas à 1 hora da tarde. Curiosamente, falaram de alguém que tinha chegado a Luanda ido de Lisboa e encerraram o noticiário!
Realmente, algo de estranho estava a acontecer! Um noticiário habitualmente de 20 ou 30 minutos acabar desta forma, não era normal!…
Durante a tarde não consegui adiantar nada em termos noticiosos. Esperei pelas notícias da noite, que apenas referiram que o Governador-Geral estava destituído, tal como o Reitor da Universidade de Luanda e mais alguns cargos.
Depois do jantar, fui revelar uns filmes a preto e branco e fazer umas cópias na câmara escura dos Cursos de Engenharia. Tinha lá um pequeno rádio e continuaria a ouvir notícias.
Assim foi. Realmente, à noite, já as notícias esclareciam alguma coisa sobre o Movimento das Forças Armadas e destituição do Governo, adiantando que seguiriam para o Funchal e depois para o Brasil.
Acabei o meu trabalho fotográfico e segui para casa. As notícias da meia-noite já esclareceriam um pouco mais o que se estava a passar na “Metrópole”!
Pensei que, depois da “Revolta das Caldas”, a reação do regime pudesse ser muito violenta e conseguisse dominar o Movimento das Forças Armadas! Adormeci a pensar que consequências haveria para o Ultramar?
A clareza das informações apenas surgiu no dia seguinte! Começou uma época em que era essencial ler jornais e ouvir a rádio, já que em Angola não havia televisão. A única hipótese para ver imagens do que acontecia na Metrópole, era ir ao cinema e ver as longas reportagens que antecediam os filmes! Frequentemente, nem os filmes tinham interesse, apenas as reportagens!
Foi uma época impressionante de informação, mas também de boatos. Nesses tempos, eu assinava a revista “Newsweek” e estava bem informado. Mas a importância da Rádio, sobretudo as emissoras de ondas curtas, levaram-me a comprar um aparelho e uma antena de grande captação que instalei na minha varanda do Prédio Cuca, virada para a Fortaleza. Com o registo dos horários das principais emissoras europeias e americanas, passei a estar ainda mais bem informado. Isso, mostrou-se essencial.
Nesse ano de 1974, ficou marcado o Acordo de Alvor para 15 de janeiro de 1975, que tanta esperança criou em Angola, mas que rapidamente se desvaneceu!
Acordo de Alvor: https://cedis.novalaw.unl.pt/wp-content/uploads/2021/01/ACORDO-ALVOR.pdf
Carlos Manuel Duarte, Portela