Tenta mudar as coisas, desarrumar a sala, fazer com os móveis um tetris. Experimentas remodelar a distribuição, tentas colocar o aparador e a estante no espaço onde estava o bar. Se és capaz de alterar todo o espaço talvez sejas capaz de reposicionar o pensamento, ler outras soluções para o mesmo problema. Um tipo que caminha sempre o mesmo trajeto, que invariavelmente se senta na mesma cadeira, que responde quase sempre de modo igual pode estar bloqueado por si mesmo. A maior barreira à interpretação da realidade, às verdades possíveis num facto apenas, à visão, está no facto de não ser capaz da recolocação. Abrir outra porta, franquear nova janela, tentar perceber as coisas por outro prisma, implica uma flexibilidade que o fanatismo não deixa. Por isso seria bom dormir noutro quarto, passar a cama para a cozinha, meter os livros na sala de jantar. Por um dia que fosse já despertava fantasias, novas visões. O tetris da casa é um pouco como dormir em hotéis diferentes constantemente. Também podemos mudar os horários da comida. Avançar para o jantar ao pequeno almoço. A quebra de uma rotina é essencial à compreensão da avaliação, do desenho de linhas condutoras. Um curso de liderança e de juiz devia obrigar a mudar as rotinas todas uma vez por mês. Ao mudar as circunstâncias mudamos o pensamento e o eu dentro delas. Como somos a soma do eu e a envolvência, assim radicalizamos a transformação. Podemos observar mais longe, mais completamente. Hoje sou a empregada, amanhã a patroa. Hoje sou o doente, amanhã sou o médico.