Este é um encontro sem crónica. Simples esboço de um desabafo sem mais história. À espera de quem entenda.
Vivemos um tempo feito de detalhes, que vive da circunstância, sobrevive no pormenor, onde as coisas mais desencontradas se juntam por peregrina necessidade. Um tempo sem desígnio, sem uma ideia mobilizadora que dê sentido às gerações.
Um tempo que vive na desculpa do passado, modesto nas ambições, onde falta futuro para onde olhar. Um tempo que se alimenta de um derrotismo à procura do instante que não aconteceu.
Uma sociedade de silêncios cúmplices, de gestos sem resposta, de caras fechadas, padronizada no voyeurismo, na novela e na festa. Sem outras referências. Onde há sempre um olhar atento, que é alheio e raras vezes amigo. Os nossos problemas pessoais que perdem intimidade.
Todos os lugares são uma praça pública, onde o comentário de dedo em riste é gratuito e ofensivo. Uma feira de vaidades, onde os pensamentos mais simples fazem opinião e os desabafos valem como compromissos.
Um tempo de desentendimento, de desencontros, onde floresce a inveja, o ódio, a narrativa do desejo e o interesse pessoal. Um tempo de ilusão, de oportunidades perdidas, de descrença, de sonhos adiados.
Um tempo onde até o acaso parece parado!
* Presidente da Assembleia Distrital do PSD e ex-presidente da Câmara de Trancoso