Fugir dos problemas tem sido um dos mais significativos legados da experiência de governação socialista.
Sempre que um problema volta, com inquietações iguais, sem objetivo de mudança, a solução passa desde logo por identifica-lo como resultado do passado recente, consequência, necessária, de culpa alheia. Não faltam exemplos na saúde, no ambiente, na justiça, no território ou na segurança.
Numa cultura de absoluta comodidade e renuncia, vocação de quem prefere a festa e o anúncio ao planeamento e decisão, se não existe forma de anular a consequência do problema, muda-se o problema por não se ter a capacidade de encontrar a solução.
O que então se usa é o anúncio de novos factos, novos processos, como forma de enterrar os problemas velhos. Consequentemente frustra-se assim a oportunidade de enfrentar o problema, sem distinguir entre problemas velhos e problemas novos.
É como que tudo se resolvesse com a colocação de ponto final e a mudança de linha para satisfazer todas as conveniências ocasionais. Como se a política fosse apenas a arte de sepultar os problemas e o berço da ilusão e da fantasia.
O lavar das mãos é uma tradição antiga, um velho ritual e uma vocação que não desapareceu. E tudo isto com uma corajosa falta de humildade tão perturbadora quanto amarga e confrangedora.
Esquecem-se é que, ainda que enterrados, os problemas não morrem, permanecem, em conflito e indiferentes a todos os pontos finais e novas linhas.
O mundo continuará como estava, oferecendo agora a imagem implacável do desastre se a política pensar que basta virar as costas e fechar os olhos aos problemas.
* Antigo presidente da Câmara de Trancoso e presidente da mesa da Assembleia Distrital do PSD da Guarda