Houve toque a rebate político no Partido Socialista da Guarda e, depois de anos sem dar notícias, o ministro da Saúde veio à cidade quando já não era ministro. É assim que o primeiro-ministro, António Costa, nos trata. É desta forma que trata o Interior.
Adalberto Campos Fernandes, suposto ministro da Saúde, veio à Guarda depois de ter evitado e contornado a cidade vezes sem conta e, por extraordinário que pareça, no momento em que cumpre a promessa, já não era ministro. Afinal, quem veio à Guarda foi um não ministro da Saúde. Mas não só. Também vieram com ele o ministro não e o ministro tudo na mesma. Senão vejamos.
O não ministro da Saúde veio resolver o problema da despromoção do Hospital da Guarda em relação ao Hospital da Covilhã, criado com a publicação do Decreto-Lei 61/2018, de 3 de agosto e emanado do Conselho de Ministros?
Não. Ficou tudo na mesma.
O não ministro da Saúde veio resolver o problema da falta de ortopedistas na ULS da Guarda?
Não. Ficou tudo na mesma.
O não ministro da Saúde veio resolver a falta de oftalmologistas na ULS da Guarda?
Não. Ficou tudo na mesma.
O não ministro da Saúde veio resolver a falta de enfermeiros na ULS da Guarda?
Não. Ficou tudo na mesma.
O não ministro da Saúde veio resolver a falta de cardiologistas na ULS da Guarda?
Não. Ficou tudo na mesma.
O não ministro da Saúde veio anunciar a reabertura da Unidade de Cuidados Coronários Intermédios do Hospital da Guarda?
Não. Ficou tudo na mesma.
O não ministro da Saúde veio saber das razões da demissão da equipa de médicos que tinham a seu cargo a gestão integrada dos blocos operatórios e área cirúrgica da ULS da Guarda?
Não. Nem quis saber.
O não ministro da Saúde veio resolver o problema das alas degradadas do Hospital da Guarda?
Não. Nem as visitou.
O não ministro da Saúde veio tratar da substituição do mobiliário partido e degradado no Hospital da Guarda?
Não. Ficou tudo na mesma e vai continuar tudo na mesma.
Afinal, o não ministro da Saúde também foi o ministro da Saúde não e o ministro da Saúde tudo na mesma. Não resolveu nada do que havia para resolver e ficámos a saber que ele já não era ministro.
Afinal, o que veio a fazer o não ministro da Saúde à Guarda?
Esta vinda do não ministro da Saúde parece ter sido mais uma presença de natureza partidária, até por ter sido o presidente concelhio do PS a anunciá-la publicamente, do que uma visita de caráter institucional.
Fique bem claro que nada me move contra o Dr. Adalberto Fernandes, a quem reconheço elevada competência técnica e científica, contudo, como ministro nunca foi Saúde, nunca foi ele próprio e somente foi Centeno e os problemas no SNS somaram-se, não sei se apenas às centenas, se aos milhares ou mesmo às centenas de milhares.
Tudo começa em Centeno.
Centeno é um apelido que todos bem conhecemos, porque esse mesmo apelido se passou a traduzir como substantivo feminino que nomeia as unidades numéricas de problemas e insuficiências que sente quem recorre ao Serviço Nacional de Saúde e que são sinalizados pelos profissionais de saúde, todos os dias.
O não ministro nada trouxe de novo e tudo foi em vão. Ficou tudo na mesma, mas já ninguém pode dizer que o ministro da Saúde não veio à Guarda. Vir veio, mas foi o não ministro.
A propaganda é útil para divulgar a verdade, mas não se entende nem se aceita para iludir a realidade.
Aguardemos a visita da nova ministra da Saúde, se António Costa a deixar vir antes das legislativas.
* Presidente da Distrital do CDS da Guarda