O conhecimento na base da mudança

“«No interior, o IPG e a UBI, serão cada vez mais os motores do desenvolvimento e da grande transformação social e económica que permitirá um futuro extraordinário mesmo numa região deprimida como a nossa»”

Mais de cinquenta mil jovens chegam este mês, pela primeira vez, ao ensino superior. Milhares de jovens que ao longo de doze anos estudaram e se prepararam para ingressar nas universidades e politécnicos nacionais. Tirar um curso superior pode já não ser a garantia de um “bom emprego” ou sequer o contributo essencial para o “elevador social” sempre ansiado, mas ainda é, sem dúvida, da maior relevância em termos de formação e alicerce de conhecimento para iniciar uma carreira profissional.
Longe vão os tempos em que Portugal era um país de analfabetos (de acordo com os Censos, em 1970 a taxa de analfabetismo era de 25,7%; em 2011 era de 5,2%). Hoje, os jovens portugueses a frequentar as universidades e politécnicos são cada vez mais – em 2023, segundo a Pordata, havia 446.028 alunos a frequentar o ensino superior em Portugal, mais três por cento que no ano anterior. E são cada vez mais os portugueses com formação superior – no ano passado, 44% da população portuguesa com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos tinha completado algum dos graus do ensino superior; e as mulheres lideravam nesta matéria, representando 52% dessa fatia, enquanto os homens representavam apenas 37% (em 1970, 19,7% dos homens eram analfabetos e 31% das mulheres não sabiam ler nem escrever). Em 2022, 42% da população da União Europeia (UE) com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos tinha completado o ensino superior, o que se traduz num aumento de um ponto percentual face a 2021. No entanto, este valor fica três pontos percentuais aquém do objetivo da UE para 2030, que visa que 45% da população da UE no mesmo grupo etário tenha o ensino superior. Segundo o Eurostat, enquanto Portugal está perto da meta europeia dos 45% de indivíduos com ensino superior até 2030, quase metade dos países da UE já cumpriram esse objetivo. É o caso da Irlanda (62%), Luxemburgo (61%), Chipre (59%), Lituânia (58%), Holanda (56%), Suécia (52%), Espanha e Bélgica (ambas com 51%), França (50%), Dinamarca (49%), Eslovénia (47%), Letónia (46%) e Grécia (45%). Pelo contrário, as percentagens mais baixas foram registadas na Roménia (25%), Itália (29%) e Hungria (32%).
Este contexto tem exigido uma adaptação da sociedade portuguesa a vários níveis. O atraso e o analfabetismo vão dando lugar a um país com conhecimento e formação, o tal país da “geração mais bem preparada de sempre”, de que, aparentemente, Portugal ainda não conseguiu tirar os devidos benefícios. E muitos portugueses são “obrigados” a emigrar, levando o conhecimento e a capacidade para outras paragens, uma realidade compreensível, ainda que angustiante. É uma emigração diferente, que vai competir com os melhores, qualificada e na qual o país investiu imenso, sem proveito… Porque a sociedade e a economia ainda não se adaptaram a esta nova realidade, porque as empresas ainda têm índices de produção baixos e o estado ainda não se modernizou – lá chegaremos. Entretanto, Portugal deu um salto de gigante em termos de qualificação e, com esforço e mérito de todos, a transformação social está a decorrer, uma metamorfose silenciosa, de que só damos conta quando percebemos que o trabalho “indiferenciado” é feito por estrangeiros por falta de mão de obra nacional, porque os jovens são cada vez mais qualificados e, naturalmente, partem à procura de melhor emprego onde quer que seja (por todo o mundo), formados e bem qualificados.
Evidentemente, os governos têm de ser imaginativos e adotar medidas que permitam que os mais jovens, qualificados e prontos para a modernização de Portugal, não emigrem em massa. Como escreveu há dias no “JN” o Reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, «agora como antes, não será com uma irrisória redução do IRS que se conseguirá evitar que os jovens mais qualificados fujam para países onde podem ver o seu mérito reconhecido e chegar a auferir o dobro do salário a que podem aspirar entre nós. Do mesmo modo, só um iníquo exercício de ilusionismo poderá pretender levar alguém a acreditar que a diminuição do IRC terá como consequência o investimento na capacitação das empresas e nos salários dos trabalhadores».
Há, pois, muito a fazer, mas a primeira parte está feita, as novas gerações estão já entre as mais qualificadas do mundo e isso é a garantia de que o país tem as sementes para estar no pelotão da frente em termos de modernização e desenvolvimento. O resto pode demorar, e pode implicar muitas lágrimas quando vemos os filhos emigrar, mas ninguém irá parar a grande transformação social e económica em curso. No interior, o IPG e a UBI, serão cada vez mais os motores do desenvolvimento e da grande transformação social e económica que permitirá um futuro extraordinário mesmo numa região deprimida como a nossa. Parece improvável ou mesmo impossível… mas irá acontecer!

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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