Um tema que me indigna é o estado a que se chegou nos parques verdes de Coimbra – Choupal, Lapa, Vale de Canas, e envolvência do rio, desde Ribeira de Frades até à praia fluvial do Rebolim. Sem vergonha, vão mais de vinte anos de ausência de estratégia, de ausência de manutenção, de abandono. O pobre Vale de Canas tem árvores centenárias que são das mais antigas do mundo e que mereciam visitas, zonas de passeio, integração em percursos pedestres e atléticos. Não tem nada!
O que sempre caracterizou a minha escrita foi a nomeação dos responsáveis, a provocação de dizer quem nos abandonou, quem nos lançou nesta incúria e desmazelo. Em 2021, a diretora regional da Conservação da Natureza e Florestas do Centro era a Engª Fátima Reis e tinha planos para recuperar o Choupal. Chora a mata e choramos nós. O presidente do Conselho Diretivo do ICNF é o Eng. Nuno Banza, o vice-presidente Dr. Paulo Salsa e o vogal Eng. Nuno Sequeira, e têm instalações na mata do Choupal onde dorme o parque automóvel do INCF. Todas estas pessoas terão méritos e virtudes, mas todas elas estão envolvidas num facto extraordinário: o Choupal apodrece. A mata de Vale de Canas é uma viúva triste que toma antidepressivos sem sucesso.
O enorme país que é Portugal tem inúmeros mecanismos de gestão e, portanto, se o INCF, com a DRCNFC, quiser intervir no rio Mondego a propósito das árvores do Choupal ou da Lapa precisam falar com a Agência Portuguesa do Ambiente, por enquanto Autoridade Nacional da Água, que define políticas e instrumentos de gestão que assegurem a defesa da água e dos seus espaços envolventes. Este papel é partilhado com outras entidades – como a ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos) – que regula o abastecimento de água para consumo humano e o saneamento de águas residuais urbanas. O Presidente da APA, mestre Nuno Sanchez Lacastra, pelo Despacho nº 7147/2019, viu renovada a comissão de serviço em 2019.
A interacção das cidades com os rios obedece a reflexões profundas e a estudo de exemplos (https://www.revistaespacios.com/a15v36n23/15362303.html) e gera mais valias para o rio e para a cidade e sua população quando devidamente estruturadas. Do Choupal à Lapa e desta ao Rebolim podíamos ter piscinas, restaurantes, adequados aproveitamentos do rio Mondego. Para isto carece de se congregar os desejos dos muitos presidentes que já fui nomeando.
Aparentemente todas estas pessoas transitarão para a CCDR – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional ao longo dos próximos tempos. Esta é a reforma regionalista do PS implementada em junho de 2023 e que, juntamente com a das ULS na saúde, quer fazer a reforma do sistema organizativo do país. O problema é que o território está partido em mais de 300 municípios, onde alguns têm seis mil votantes e por essa razão deviam desaparecer. O início de uma reforma do Estado português tem de partir da reforma municipal e de um desenhar transversal aos partidos de uma administração mais coerente e baseada na democracia. Aquilo a que estamos a assistir é a construção de máquinas burocráticas que vão interferir com os poderes locais legitimamente eleitos e desse modo a regionalização sai da esfera das autarquias.
Antes de mega ULS e mega CCDR devíamos reformular os municípios. Dar estatuto de Câmara aos lugares onde votam mais de 40 mil pessoas. Repensar os territórios onde votam menos de 40 mil para que fique pelo menos um número como referência.
O Choupal como mote
“Antes de mega ULS e mega CCDR devíamos reformular os municípios. Dar estatuto de Câmara aos lugares onde votam mais de 40 mil pessoas. Repensar os territórios onde votam menos de 40 mil para que fique pelo menos um número como referência.”