Neonatologia: quando o bebé chora…

Escrito por Iris Silva

«Contudo, decifrar o choro é um desafio, que implica conhecimento, dedicação e aprendizagem por parte dos pais»

Chega o esperado dia – o dia da alta. Mas, já em casa, começam a surgir as dúvidas: “Porque está o meu bebé a chorar? O que precisa? Porque não o consigo consolar?”.

O choro é a linguagem universal dos bebés. É através do choro, do olhar e dos movimentos corporais que estes exprimem as suas necessidades. Contudo, decifrar o choro é um desafio, que implica conhecimento, dedicação e aprendizagem por parte dos pais.

O choro persistente ocorre em, aproximadamente, 20% dos bebés, contudo menos de 5% tem uma causa orgânica que o justifique. É habitual surgirem períodos de choro persistente, principalmente entre as 3 e as 12 semanas, sem causa identificável, com duração superior a 3 horas por dia, mais de 3 dias por semana, em crianças saudáveis. As causas do choro podem ser físicas, emocionais ou patológicas. As primeiras a serem rapidamente atendidas pelos pais são as causas físicas: a fome, frio ou calor, roupa desconfortável, estar sujo/molhado, sono, cansaço. Após estas causas serem verificadas deve-se pensar nas causas emocionais: o pedido de consolo/mimo, a tentativa de chamar a atenção, por se sentir inseguro e precisar de mais afeto. Na grande maioria das vezes, confortando o bebé este fica calmo e o choro cessa lentamente. Quando a criança se mantém não consolável pensa-se em causas patológicas: dor, cólicas (situação transitória de etiologia multifatorial – deglutição excessiva de ar, imaturidade gastrointestinal e tensão emocional) ou dificuldade na dejeção. Se mesmo assim o choro persistir, é necessário avaliar se o bebé tem outros sinais que possam preocupar (bebé doente): febre, palidez, gemido, irritabilidade, prostração, recusa alimentar, vómitos, diarreia, cansaço a respirar; nestes casos os pais devem dirigir-se com o filho ao médico assistente/urgência hospitalar.

Com o passar do tempo, os pais vão descobrindo diferentes sonoridades no choro do filho e este também irá melhorar a sua capacidade de comunicação e autocontrolo, pelo que a interpretação de certos sinais será cada vez mais fácil. Contudo… alguns bebés têm um “temperamento difícil”. As famílias ficam cansadas e, por vezes, até mesmo, desesperadas. Estabelece-se assim um círculo vicioso entre o choro persistente da criança e a ansiedade dos pais.

Como podem os pais ultrapassar este problema?

Algumas estratégias que podem ajudar são: mobilizar o apoio de familiares e amigos para tomar conta da criança ou para outras tarefas domésticas, fazer turnos à noite entre os pais, aproveitar para descansar enquanto o bebé estiver a dormir, criar e respeitar rotinas da criança, procurar apoio junto de profissionais de saúde (médico/enfermeiro de família, pediatra). No momento em que o bebé está a chorar deve-se responder ao apelo com tranquilidade, a resposta deve ser pronta, mas comedida e sem ansiedade. Os pais devem pegar ao colo, aconchegar, embalar, falar com o filho de forma calma, oferecer a mama/chupeta, massajar. Se estas estratégias forem adotadas, o bebé sente que foi compreendido e que mereceu uma resposta, o que irá contribuir para a sua sensação de segurança e tranquilidade.

 

Iris Silva
Médica Interna no Serviço de Pediatria da Unidade Local de Saúde da Guarda

N.R.: A rubrica mensal “ABC Médico” é da responsabilidade do grupo de Internato Médico da USF “A Ribeirinha” e pretende aumentar a literacia em saúde na área do distrito da Guarda.

Sobre o autor

Iris Silva

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