Mais um ano de pandemia, mais um Verão estragado. Os erros, nossos e do Governo, as mutações do vírus, os atrasos na vacinação e as hesitações em relação a algumas vacinas conjugaram-se para mais uma vez não podermos ir para férias em segurança.
As últimas notícias são alarmantes. As mutações são cada vez mais contagiosas e a eficácia das vacinas pode estar comprometida. Não está fora de questão termos de levar um reforço, mais tarde ou mais cedo, e 70 por cento de vacinações podem não garantir a imunidade de grupo. Se deixarmos as crianças e jovens de fora, a pandemia vai continuar a grassar, agora pelas escolas e infantários e, daí, para as suas casas e para a população em geral. Como não se sabe quanto tempo dura a imunidade conferida pelas vacinas, podemos estar a regressar à estaca zero dentro de um ano ou dois. Ou antes.
A solução parece linear. O esforço de vacinação vai ter de prosseguir junto de crianças e jovens, mesmo das mais tenras idades, possivelmente dentro das suas escolas, talvez mesmo nas salas de aula de escolas e infantários. Linear mas não simples: muitos pais não vão autorizar e o medo das agulhas vai transformar os locais de vacinação em cenários de filmes de terror. O segundo problema terá de ser enfrentado com imaginação e esta não faltará de certeza aos responsáveis. O primeiro é mais preocupante e vai precisar de mais do que balões e palhaços.
Na ilha do Corvo houve uma percentagem muito relevante da população que recusou vacinar-se. Muitos, em todo o país (todo o mundo?), “esperam para ver”. Nunca se sabe, dizem. Afinal, entre os muitos milhões de pessoas vacinadas houve algumas mortes, de que não se conhecem muito bem os detalhes ou a causa exata, mas toda a gente conhece quem tenha tido efeitos secundários desagradáveis, com gente a ficar de cama, outros a terem de ir ao hospital, sobretudo depois da segunda dose.
Pergunto-me se terão alguma vez lido a bula da Aspirina e os seus efeitos adversos possíveis (risco de hemorragia, ulceração ou perfuração, reações anafiláticas, dificuldades respiratórias, entre outros), ou do Brufen (aumento de risco de ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral, necessidade de precauções especiais em asmáticos, hemorragias gastrointestinais e perfurações, às vezes fatais, possibilidade de deterioração da função renal, possibilidade, embora rara, de meningite asséptica, eventuais problemas com a função hepática, reações cutâneas graves, algumas das quais fatais, embora raras, mas de maior risco no início do tratamento), ou ainda do Montelucaste (princípio ativo do Singulair), usado para tratamento da asma (erupções cutâneas, hemorragias, hepatite, eritema multiforme, reações cutâneas graves).
Este último medicamento, o Montelucaste, na sua bula, faz-nos o favor de dizer o que considera efeitos adversos muito raros: até 1 em 10.000. Recordem-me: quantos efeitos secundários graves têm sido relatados por milhão de vacinas administradas? Não é algo como quatro ou cinco, ou menos?
É já suficientemente mau termos este Verão estragado. Ou há juízo, ou colocamos as coisas na sua devida perspetiva, ou podemos dizer adeus também aos próximos Verões.
Mais um Verão estragado
«As mutações são cada vez mais contagiosas e a eficácia das vacinas pode estar comprometida»