Atualmente, um dos nossos problemas mais frequentes talvez passe pelo facto de haver mais dificuldade em aceder digitalmente a qualquer serviço de que se necessite, do que em aceder ao ginásio das redes sociais, onde se dá em exercitar a rapidez na ativação dos sentimentos mais intensos e dramáticos. Caso para pensar: não se fica mais inteligente, mas fica-se propenso a acelerar na adesão a todas as causas e mais algumas. Claro que, desde que tendam a judicializar a política, a promover a personificação de qualquer desgraçado bichinho ou a revestir-nos, copiosamente, de comportamentos muito, mas muito caritativos. Perante a insistência de tanta pressão e impressão, vinda das redes sociais, claro que só podia dar nisto. De se ficar muito mais disponível para ativar toda aquela espécie de sentimentos que, por exemplo, a alguns, leva a interpretar a Greve Climática Estudantil como uma “revolução”, a outros levará a considerar que um chorrilho de aldravices, amarradas por um cordel, é “história” e a aqueloutros a considerar a atividade de meia dúzia de procuradores, por ventura menos meticulosos, muito proveitosa e desejável.
No entanto, o maior problema, desta disponibilidade para se aderir a tudo isto de forma mais ou menos compulsiva, será sempre o de se poder estar tão enganado, quanto mais estranho, por exemplo, considerarmos o facto de os estudantes, grevistas e ocupas decretarem como criminosos climáticos quantos lhes “aparecessem” à frente. Porquanto nem tão estranho acontecimento tenha impedido que muitos desatassem logo a elogiar-lhes a coragem e a intervenção “cívica”. Duas condições, ao que parece por si só, consideradas reveladoras do virtuosismo juvenil, em geral, e dos jovens estudantes, em particular. Tanto assim parece ser que, a alguns dos grevistas/ocupas, nem o respaldo dos seus diligentes progenitores faltou. Bem, se isto não faz lembrar aquele tipo de virtuosidade colada às beatas (de sacristia) e aos “acusa-cristos” de antigamente, também não se vê que outra lembrança traga, mas vá… é assim que, nesta vertiginosa adesão a tudo o que cheire a injustiça e escarcéu (político), já ninguém se poderá admirar por haver menos quem se lembre do facto de a violência doméstica nos custar 8,4 mil milhões de euros por ano e, só no que vai deste, 28 vidas e sabe-se lá mais o quê, do quem se indigne quando alguém vem lembrar que andam por aí cerca de 6 centenas de agentes da autoridade assumidamente racistas e misóginos, entre outras coisas de índole idêntica, a propagar mensagens de ódio e violência. Enfim, tudo coisas a lembrar certas ideologias que para se tenterem impor necessitam, mesmo, é de depreciar as instituições democráticas e, não raramente, de se socorrer dos instrumentos do Direito para atacar, através da disseminação acrítica de “não-factos”, o próprio Estado de Direito. Exercício que, pelos vistos, até se tem revelado muito mais eficaz, para a imagem de credibilidade dos patronos das ditas ideologias, do que o das mulheres das antigas conversas do soalheiro com as mães a instar as filhas: “chama-lhe, chama-lhe filha, antes que ela te chame a ti…”.
Literalmente, enredados
“Caso para pensar: não se fica mais inteligente, mas fica-se propenso a acelerar na adesão a todas as causas e mais algumas.”