Hotel Turismo

“O Hotel de Turismo será uma Pousada de Portugal”

O Hotel Turismo da Guarda encerrou em 2010. O negócio feito entre a Câmara da Guarda e o Turismo de Portugal há 12 anos foi um erro grosseiro do executivo municipal presidido então por Joaquim Valente, que vendeu um património extraordinário por três milhões e meio de euros ao Estado. O Hotel Turismo é um dos melhores edifícios da Guarda, uma referência da arquitetura nacional, projetado por Vasco Regaleira, seguindo o estilo de Raul Lino – o projeto nasceu nos anos 30 (começou a esboçar-se, após a exposição itinerante do Concurso do Hotel Modelo, lançado em 1933 pela revista “Notícias Ilustradas” com o apoio do Comissariado de Turismo, no período mais dinâmico do Estado Novo) e foi inaugurado, com pompa e circunstância, em 1947, depois de 14 anos de polémicas e falta de dinheiro… como aqui escrevi em https://ointerior.pt/arquivo/para-alem-do-fim-do-hotel-de-turismo/.
O Hotel Turismo chegou a ser uma referência a nível nacional, e inclusive um dos mais caros do país. A classe e a categoria brilharam durante mais de meio século. Até que, no dealbar do milénio, o dia a dia do Hotel passou a ser sombrio. Arrastou-se nos últimos anos na escuridão e nebulosidade da gestão camarária, que não teve a arte e engenho para o resgatar da obscuridade. Enquanto outros faziam da hotelaria um negócio lucrativo, a Câmara da Guarda perdeu dinheiro durante anos e fechou o Hotel matando um desiderato coletivo e uma referência social e económica numa cidade que sonha com o turismo.
Uma dúzia de anos depois, e após muitas promessas, uma luz ao fundo do túnel parece agora acender-se. O Governo decidiu, de acordo com a secretária de Estado do Turismo, recuperá-lo e arrendá-lo a uma das mais importantes redes de hotelaria portuguesas. Na Assembleia da República, em resposta ao deputado António Monteirinho, Rita Marques assegurou que a decisão está tomada e o processo irá avançar: O Hotel Turismo será uma Pousada de Portugal. Ana Mendes Godinho e António Monteirinho ficam com o crédito de quem, em campanha, afirmou que não iria desistir do Hotel e, discretamente, até hoje, conseguiram contribuir decisivamente para que a solução encontrada seja a melhor para a Guarda e para a região: uma Pousada de Portugal. Ainda haverá alguns pormenores desconhecidos e porventura em análise ou discussão entre o Estado e o concessionário ao qual o imóvel será arrendado, depois de recuperado. Uma marca de excelência implementada em 35 hotéis únicos que se encontram em mosteiros, castelos, conventos, fortes e mansões que foram restaurados e transformados para hotelaria. Na Guarda, será o hotel de sempre, o hotel dos guardenses, um local de sonhos e desilusões, das maiores festas e do glamour, que recebeu estrelas e presidentes da República, que foi o centro da vida egitaniense e ponto de encontro de toda a “sociedade” guardense, cujos salões testemunharam alguns dos momentos mais importantes da região durante anos, porque tudo o que era importante ocorreu ali (e onde tive o privilégio de entrevistar o Presidente da República Jorge Sampaio, ou Eduardo Lourenço, Mário Soares, Freitas do Amaral, Sérgio Godinho, Maria João Pires ou José Saramago, quando apadrinhou o “Cidadão de Cidadelhe”, o vinho, em 2003, uma dúzia de anos depois de ter imortalizado o Hotel Turismo na “Viagem a Portugal”, quando relatou a sua noite mal dormida no carro, porque o hotel estava esgotado…). Tantas memórias desse imenso e notável local que agora terá uma nova alma, a alma de Pousada de Portugal. Excelente.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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