A recente digitalização da vida humana, desde a afetividade e convívio social a toda a atividade económica, colocou um poder desmesurado na mão de meia dúzia de oligarcas que controlam as principais plataformas onde circula a informação que nos interessa, ou que nos diz pessoalmente respeito.
Até há pouco, víamo-nos num mundo multipolar com centros de poder dispersos pelos continentes. Confiávamos nos pesos e contrapesos dos estados de Direito e nos regimes democráticos do mundo ocidental. Hoje percebemos que a informação de que dispomos, e a nossa possibilidade de agir sobre ela, está nas mãos de Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg, os estados russo e chinês… e poucos mais.
As tecnologias vencedoras são por natureza monopolistas e nem estados, nem organizações, nem empresas, nem indivíduos, podem prescindir hoje das infraestruturas digitais que este núcleo controla.
O que é que sobra para além disso? Um pouco da literatura e da arte, que são por natureza independentes. O conhecimento académico, cujo método científico coloca a salvo de manipulações grosseiras. E sobra, sobretudo, a imprensa livre e independente.
Esta simples formulação “livre” e “independente” coloca o jornalismo profissional no lado oposto ao das redes sociais e do trânsito de informação que Bezos, Zuckerberg e poucos mais controlam. Nada desafia mais a indiferença pela objetividade e pelas traições à verdade praticadas nas redes digitais, do que o artigo 1º do Código Deontológico dos jornalistas portugueses: «O jornalista deve relatar os factos com rigor e exatidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público».
É esta pureza iluminista, humanista, que o jornalismo profissional representa em 2025. Seja em órgãos de informação locais e regionais – como O INTERIOR – seja em órgãos nacionais ou internacionais, o respeito por estes princípios é uma barreira segura contra a mentira e os totalitarismos.
Só é possível uma opinião pública esclarecida, e comunidades desenvolvidas culturalmente, quando há distinção objetiva entre a verdade e a mentira. Só a confiança que a comunicação social oferece sobre a realidade dos factos permite a liberdade de escolha e, com ela, a democracia.
É muito importante, por isso, investir na educação e na formação para o consumo dos média, aposta que deve ser iniciada no ensino básico, desenvolvida no secundário e densificada no ensino superior. A literacia mediática é uma competência imprescindível para o exercício da cidadania contemporânea.
* Presidente do Politécnico da Guarda