Integração de migrantes

Desde os Descobrimentos que os portugueses partiram à procura de novos mundos, colonizaram territórios distantes, radicaram-se nos mais diversos destinos, procuraram melhor vida no Brasil, nas Américas, na França ou na Suíça. Os portugueses da diáspora aculturaram-se ou mantiveram-se enclausurados numa lata de conserva de cultura lusitana. Sobreviveram ou tiveram sucesso, integraram-se ou não… Mas sempre defendendo que os países de acolhimento respeitassem a sua identidade ao mesmo tempo que, orgulhosamente, se registava a boa integração dos emigrantes portugueses.

Depois de anos a convivermos com a ideia de que Portugal é um país de emigrantes, com milhões de portugueses espalhados pelo mundo, o país passou a ser destino de imigrantes. E não sabe conviver com esta nova realidade…

No seguimento da entrevista que Pedro Nuno Santos concedeu ao “Expresso”, o PS implodiu em diferentes interpretações sobre as palavras do secretário geral socialista: as profundas divisões no seio do PS a respeito do tema da imigração vieram ao de cima – e se dentro do mesmo partido à tantas diferenças sobre o assunto, que dizer do país…

De acordo com diferentes estudos de opinião, a maioria dos portugueses aceita bem a imigração, mas com regras e de uma forma que não coloque em causa o nosso modo de vida. Na prática também foi isto que Pedro Nuno Santos assumiu, mas este ponto incomodou muitos dos seus correligionários e, como sintetizou Filipe Alves, no “Diário de Notícias”, «boa parte da esquerda não concorda que se possa falar numa “cultura” e num “modo de vida” português, ou até que ainda faça sentido falar de uma nação portuguesa, enquanto comunidade histórica e cultural composta por pessoas que partilham uma determinada identidade que as diferencia de outras que pertencem a outras comunidades».

Para muitos, essas declarações são próprias da direita ou até do Chega. Muitos dirigentes socialistas e grande parte da esquerda não aceita que a imigração tenha de obedecer a regras, esquecendo que a sociedade tem de as ter para funciona e que se não for assim o desastre será eminente. Muito para além dos valores humanistas, tem de estar o cumprimento da lei e a regulamentação da imigração. Comprovadamente, Portugal precisa de trabalhadores, necessita de imigrantes, mas, para além dos valores e da lei, é razoável recordar que a Constituição fala no seu preâmbulo em “povo português”, precisamente porque somos uma nação historicamente constituída por indivíduos que partilham um território, uma cultura, uma língua e costumes. Neste contexto, é natural e legítimo que os portugueses queiram manter o seu modo de vida e a sua identidade como povo, num tempo de migrações. Obviamente que isto não implica que não possamos receber e dar as melhores condições aos estrangeiros que vêm viver para Portugal. Pelo contrário, e muito para além da questão económica, devemos receber e integrar os imigrantes, sem preconceitos e respeitando os direitos e princípios, mas também exigindo a correta inclusão dos que chegam, de acordo com as regras, a lei e os costumes. Com alguma razoabilidade e bom senso ainda vamos a tempo de organizar a forma como recebemos os migrantes e os integramos, não vale tudo, nem faz sentido ir contra a corrente, viver em comunidade é respeitar a diferença e promover as boas práticas.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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