Infertilidade – o grande tabu familiar

Escrito por Mariana Mina

A dificuldade em engravidar é ainda um tabu no seio das famílias portuguesas. O estereótipo da família “casal com filhos” está enraizado na nossa comunidade, mas o que fazer quando o bebé não chega?

De acordo com a Associação Portuguesa de Fertilidade, estima-se que 15 a 20 por cento dos casais portugueses sofra de infertilidade. O casal é considerado infértil quando a gravidez não ocorre ao fim de um ano de relações sexuais frequentes sem utilização de métodos contracetivos, para a mulher com menos de 35 anos (6 meses para a mulher com mais de 35 anos).

As causas podem ser muito variadas. Em 30/40 por cento dos casos há uma causa feminina (p.e. disfunções da ovulação ou doença dos órgãos reprodutores), noutros 30/40 por cento a causa é masculina (p.e. menor quantidade/qualidade de espermatozoides ou disfunção da ereção/ ejaculação) e em 20 por cento dos casos ambos os membros do casal contribuem para o problema. Nos restantes 10 por cento não é possível encontrar uma causa mas alguns fatores de risco comuns podem estar implicados, como a idade, o peso, o consumo de álcool, tabaco ou drogas, alguns medicamentos, doenças sexualmente transmissíveis ou contacto com pesticidas e radiações.

Ao fim de um ano de tentativas sem sucesso, o casal deve dirigir-se a uma consulta de Planeamento Familiar com o seu médico de família. Serão avaliados os hábitos de vida e comportamentos de risco e realizados exames para estudo das possíveis causas (análises, ecografia ginecológica, estudo do esperma, entre outros), sendo que nalgumas situações pode ser necessário o envio a uma consulta com um especialista em fertilidade.

Existem atualmente vários tratamentos disponíveis, adaptados a cada caso, como a inseminação artificial, fertilização in vitro ou transferência de embriões, e para os quais podem ser usadas células dos próprios elementos do casal e/ ou de um(a) dador(a). Estas e outras técnicas, apesar de morosas e dispendiosas, têm demonstrado resultados positivos no tratamento dos casais com dificuldades em engravidar.

O caminho para conseguir uma gravidez bem sucedida num casal infértil pode ser longo, cercado de um grande desgaste emocional e económico. Talvez uma das maiores provações seja o sentimento de frustração e desespero (consigo mesmo e com o parceiro), além da pressão social e muitas vezes familiar que surge sobre o casal. É fundamental que não se atribuam “culpas”, que subsista o apoio entre os cônjuges e que não tenham medo de pedir ajuda especializada. Porque a infertilidade pode ainda ser um tabu na nossa sociedade, mas a esperança na chegada de um bebé não deve acabar com um teste “negativo”.

* Médica interna da USF “A Ribeirinha”, na Guarda; Orientadora: Dra. Ana Isabel Santos

 

A rubrica “ABC Médico” é da responsabilidade do grupo de Internato Médico da ULS da Guarda e pretende aumentar a literacia em saúde na área do distrito da Guarda. O objetivo desta coluna mensal é capacitar a comunidade a fazer parte integrante do seu processo de saúde/doença, motivando-a para comportamentos de vida saudáveis e decisões adequadas. Para tal, são escolhidos temas pertinentes que serão apresentados por ordem alfabética.

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Mariana Mina

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