Há qualquer coisa no ar…

“Sempre defendi e defendo que os mandatos, sejam eles quais forem, devem ser cumpridos até ao fim. No entanto, admito que possam existir circunstâncias supervenientes de índole excepcional, e sublinho a excepcionalidade, em que haja necessidade de antecipar o término do mandato para um momento anterior no tempo.”

Quis uma fortuita casualidade do destino que escrevesse este artigo no dia 24 de Abril e por mero acaso ou então por determinismo cósmico, quis esse mesmo destino que hoje fosse publicada uma sondagem onde o PSD surge pela primeira vez, desde há um bom tempo, à frente do PS. A diferença ainda é ténue mas a tendência é de claro crescimento.
Gostaria então de fazer a analogia com o dia que antecedeu a revolução que amanhã se comemora, no qual, algumas pessoas, mais avisadas ou atentas, diziam em surdina que algo estaria para se passar, que andava qualquer coisa no ar… Era o prenúncio da Revolução dos Cravos.
Da mesma maneira e simbolicamente no mesmo dia, este estudo de opinião vem demonstrar que algo de fraturante se estará para passar. Anda qualquer coisa a agitar o eleitorado, pois, de acordo com a referida sondagem, 76% dos portugueses consideram que o senhor Presidente da República «deveria ser mais exigente» com o Governo. Convenhamos, quando mais de três quartos dos portugueses se pronunciam desta maneira é porque a situação política está a chegar a contornos insustentáveis. As sondagens são uma pura expressão das pessoas, empresas e sociedade civil, onde claramente manifestam os seus problemas e necessidades, daí que, não obstante os erros estatísticos que possam conter, são um instrumento fidedigno de monitorização do “pulso” da população.
Não quero maçar o leitor com os casos e casinhos que povoaram os últimos meses da governação socialista, mas as últimas novidades que resultaram da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP deixam poucas dúvidas de que existe no Governo de Portugal uma predisposição patológica para a mentira e para a leviandade no tratamento da causa pública. Não há como esconder ou ser mais brando nas palavras. É a verdade que hoje vamos conhecendo e sabe-se lá o que mais estará para vir… Este comportamento de vários altos dirigentes de organismos do Estado, com o beneplácito do senhor Primeiro-Ministro, levanta dúvidas muito pertinentes quanto à conivência, amadorismo e interesses obscuros que assombram os corredores do poder.
Sempre defendi e defendo que os mandatos, sejam eles quais forem, devem ser cumpridos até ao fim. No entanto, admito que possam existir circunstâncias supervenientes de índole excepcional, e sublinho a excepcionalidade, em que haja necessidade de antecipar o término do mandato para um momento anterior no tempo. Apesar do Governo PS ter o apoio de uma maioria parlamentar legítima, o seu comportamento nos últimos tempos deixa muito a desejar e envergonha a honestidade democrática que os precedentes 49 anos ajudaram a construir.
Por estes motivos, desta escura noite do 24 admito que em breve o Regime vai ruir e um novo sinal de esperança começa já a desenhar-se no horizonte.
O 25 é já amanhã!

* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos

Sobre o autor

Ricardo Neves de Sousa

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