25 de Abril – Tramoias, manhas e uma quantidade significativa de chico-espertos

Escrito por Albino Bárbara

“Caminhando a passos largos para o meio século da madrugada do 25 de Abril de 1974 é tempo de reviver o passado para que os cravos continuem vermelhos. “

Caminhamos a partir de hoje para o meio século do 25 de Abril. Ao longo destes 50 anos já vimos de tudo. Por isso mesmo não podemos ficar indiferentes ao que se passa à nossa volta. Perceber a história não é ficar refém dela, mas sim, na nossa própria evolução, assumirmos o presente sabendo construir utopias e, quiçá, ir sempre mais além.
O cravo na lapela de ontem deu lugar, hoje, à realidade, às trapalhadas, aos jogos de poder, à mentira, ao cinismo e à hipocrisia protagonizada por uns tantos calculistas, oportunistas e à corja conhecida de inúmeros Pinóquios que, jogando na equipa Rocket, ganham destaque os Ask’s rosados, os Nick’s alaranjados, os Furbies vermelhos, os Yoda’s azuis e até os Pokemon’s de cor de burro a fugir, os tais que fazem com que haja dois milhões de pobres, dois milhões com o salário mínimo e ainda outros dois milhões com reforma mínima. C’os diabos… 50 anos depois do 25 de Abril!!!
Percebendo tudo isto, e porque o grande irmão continua a teimar em zelar por nós, agora, em pleno mês das flores, aqui no cantinho, tão bem cantado por Camões, vamos ser testemunhas da reunião da internacional fascista. Afinal, o fascismo e os fascistas nunca desarmam e o escarro que entretanto a democracia deixou parir está cá, tem os seus seguidores e basta ver a contestação e a estúpida “açougada” a Lula, democraticamente eleito e presidente de um país irmão. Dizem que está a crescer. Caro leitor “com papas, bolos e festas (meus Deus onde é que eu já ouvi isto)… se enganam os tolos” e, com as tais falinhas mansas de verdades à Palisse, só cai quem quer.
Uma outra questão tem a ver com o mandador de recados que, na sua sobranceria de habitante do palácio Pink, fala de tudo e mais de alguma coisa. Sabe-se agora, é a democracia a funcionar, após a quarta vez e embora lhe custe, vai ter de promulgar a lei da eutanásia. Recorde-se que a lei não é de direita, centro ou esquerda. Não é dos médicos, das igrejas ou de quem quer que seja. É minha, é sua, pois cabe-me a mim, a si, decidir de forma pensada, coerente e consistente. Cada um de nós é dono e senhor da sua própria vida e isto traz-me à memória a notável intervenção do chefe da igreja católica, que designam por cardeal, aconselhando os seus seguidores, entretanto divorciados de um primeiro casamento, que devem abster-se de ter relações sexuais. Para não nos alongarmos mais e sem cair no caricato, ridículo e hilariante da questão, referir apenas que no melhor pano cai a nódoa e, quando se cospe para o ar, convém saber tirar a cara… não vá o diabo tecê-las.
A menina joga? A senhora joga? A mulher também. O livro do saudoso Norberto Gonçalves e de Carlos de la Villa foi apresentado nesta terra de liberdade e da enorme luta pelos direitos das mulheres. A pesquisa do lado de cá e por parte de “nuestros hermanos” faz com que os jogos tradicionais sejam um dos elementos socializadores da mulher do século XX e contracena com um outro que nos foi presente por parte de um comentador televisivo (também ele mandador de inúmeros recados) que tem a Guarda, o Distrito e o interior como pano de fundo e, de casa cheia, a leitura que imediatamente foi feita, por parte de todos os que estavam presentes, afinal não foi do livro, mas sim do “timing” do lançamento e das várias possibilidades do futuro posicionamento politico do seu autor tendo sempre em conta o amor, estima e a dedicação por esta terra. Pois… pudera…
Caminhando a passos largos para o meio século da madrugada do 25 de Abril de 1974 é tempo de reviver o passado para que os cravos continuem vermelhos. Mas também é tempo de defender políticas consistentes protegendo quem se esforça, quem trabalha e quem luta por uma sociedade mais livre, mais justa e mais fraterna, continuando a acreditar na poesia e dar enfâse ao que de bom se passa à nossa volta, obrigando-nos a estar permanentemente atentos, despertos e interessados ao mundo onde a guerra, a fome, o racismo e a intolerância teimam em persistir. Tanto por lá, como por cá. E esses (muito cuidado), andam mesmo por cá…

Sobre o autor

Albino Bárbara

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