Nada é certo e seguro, mesmo reuniões ao mais alto nível. A Cimeira Ibérica na Guarda, marcada para o dia 2 de outubro, foi novamente adiada. Nesse dia vai ter lugar a reunião dos chefes de Governo da União Europeia, convocada de urgência e tendo na agenda o agravamento da situação epidemiológica na generalidade dos países europeus, o aumento de mortes e infetados pela Covid-19. A saúde pública dita as suas leis.
Estava tudo preparado – e continua a estar – para receber António Costa e Pedro Sanchez. No Centro de Estudo Ibéricos, com toda a carga simbólica que a instituição encerra, terá lugar a cimeira dos dois governantes. Há 20 anos, na Guarda, já se preparavam novos caminhos para a Raia, a centralidade ibérica e as relações transfronteiriças.
Os restantes encontros das comitivas governamentais terão lugar na Biblioteca Eduardo Lourenço e no TMG, nos jardins envolventes e na Alameda de Santo André. Passar pela Sé é quase uma obrigação. É muito significativo que todas as infraestruturas que recebem a XXII Cimeira Ibérica sejam herança de autarcas, com uma visão cultural para a Guarda que muitos tentam apagar, desvalorizar, esquecer….
Esperemos que este adiamento seja muito breve. A Guarda, a Raia, Vilar Formoso, terão muito a beneficiar com as decisões da Cimeira. Juntos fazemos uma fronteira de oportunidades, uma vizinhança consequente com Espanha, dentro da UE. Esta Raia é mesmo o elemento central de um território transfronteiriço de Salamanca a Coimbra, base da singularidade programática da pré-candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura 2027.
Bejar, Ciudad Rodrigo, Almeida, incorporam um património comum. S. Pedro de Rio Seco é a terra de Eduardo Lourenço, esse enorme cidadão do mundo, europeu pela cultura, mas raiano pelo coração.
É um acontecimento histórico. Será, portanto, natural que as gentes da Guarda, fidalgas e hospitaleiras, recebam bem tão ilustre comitiva. Mas parece que há responsáveis a quem isso incomoda. Se em vez de palmas houvesse assobios não se perdia nada…
Anunciar descontos nas portagens das ex-SCUT que deixavam a Guarda de fora, na A23 e A25, vinha mesmo a calhar. As redes sociais fervilharam de indignação. Quem não se sente não é filho de boa gente, e a população não perdoaria ao Governo essa discriminação duplamente negativa, essa provocação à cidade. O jornal desmentiu no dia seguinte a sua própria notícia.
E tudo o “JN” levou! O distrito vai incluir o mapa dos descontos, a cimeira é adiada!
O quadro pandémico Covid-19 pode provocar profundas alterações ao funcionamento das instituições, mas a amizade e o afeto não conhecem fronteiras e cores políticas. A cooperação transfronteiriça vai transformar a Raia em centralidade peninsular, territórios de coesão, terras com vida.
Bem-vindos à Guarda!
* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda