Num tempo em que damos mais importância aos ”influencers” das redes sociais e que seguimos as figuras públicas que produzem estéreis soundbytes; num tempo em que nos achamos informados ao ler apenas os títulos e os feeds que vemos na net e em que não temos “tempo” para mais… foi bom e reconfortante ver e ouvir Ramalho Eanes (https://www.rtp.pt/noticias/pais/estado-de-emergencia-a-entrevista-na-integra-a-ramalho-eanes_v1217552).
O antigo Presidente da República não nos veio dar lições sobre vírus, nem veio falar do que não sabe, como todos os pataratas fazem, Ramalho Eanes convidou-nos à reflexão, ao silêncio e «à comunhão».
E sim, foi importante ouvi-lo, na sua tranquila postura, assumindo o seu discurso clássico de um humanista íntegro, honesto e independente.
Os comunistas nunca lhe perdoarão que ele tenha vencido a 25 de novembro, mas foi aí que Portugal ganhou. E foi aí que a Democracia se afirmou em Portugal. Ele que foi o primeiro presidente eleito por todos os portugueses.
Como fez João Marcelino no “Jornal Económico”, nunca é de mais recordar que o «General recusou ser Marechal; prescindiu de um milhão e 300 mil euros de retroativos de uma reforma a que tinha direito; que presidiu a Portugal durante 10 anos (de 1976 a 1986); que a História tornou no militar mais importante do golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, fundador da Democracia; que recebeu condecorações de mais de 20 países», que levanta a voz contra a corrupção e é uma referência para todos.
Numa entrevista deu-nos uma lição. Uma lição de vida.
Nas comunidades mais tradicionais a idade significa sabedoria e conhecimento. Ser mais velho é ser respeitado e é ser ouvido – “um velho que morre é uma biblioteca que arde”. Do cimo dos seus 85 anos Ramalho Eanes falou-nos de dignidade, falou-nos de amor e de sofrimento. Falou-nos de liderança e do mundo depois da pandemia, do humanismo e solidariedade que não podemos perder. Deu-nos uma lição de humildade e carinho para com o próximo. Falou-nos do que tantas vezes esquecemos no reboliço da nossa vida, que o Covid-19 veio suspender.
Ou como disse José Maltez, Eanes «continua chefe»! Ainda bem! Ainda bem que temos quem nos fale assim e nos acenda uma vela quando estamos no meio da escuridão.