Estudantes da Guarda na Universidade de Coimbra – Parte 2

Escrito por Francisco Manso

«Mulheres são raríssimas, até agora, nenhuma. O objectivo deste trabalho é saber quem eram esses estudantes, as suas famílias, e o que fizeram depois, já doutores»

Frequentar uma universidade nos primeiros anos do século XX não estava ao alcance de todos, sobretudo pelo esforço económico que isso exigia.
Os estudantes do concelho da Guarda são poucos, mas o contingente distrital é dos mais relevantes do país na Universidade de Coimbra, a única até 1911.
Mulheres são raríssimas, até agora, nenhuma. O objectivo deste trabalho é saber quem eram esses estudantes, as suas famílias, e o que fizeram depois, já doutores. Uns tornar-se-ão figuras destacadas na região ou no país, outros caíram rapidamente no esquecimento, e só a custo as consigo lembrar. Trata-se de um pequeno rol de estudantes, acompanhado de algumas notas biográficas, e por vezes de uma foto. Para mim, fica a memória de todos… espero eu.

1900
Estamos ainda no ano académico 1900/01. Os estudantes naturais da Guarda são apenas 9.

ALBERTO DINIS DA FONSECA, ROCHOSO
Filho de António Dinis da Fonseca e Maria Rita, natural do Rochoso. Formou-se em Direito.

ALBERTO PEREIRA DE ALMEIDA
Filho de António Gomes d’Almeida, natural de Vila Fernando. Formou-se em Direito.

ANTONIO POLICARPO DAS NEVES
Filho de António José Polycarpo e Eliza Augusta das Neves, nasceu na Guarda em 1885. Matriculou-se na Faculdade de Direito.

15 3

JOÃO DE ALMEIDA
Filho de Alexandre Fernandes de Almeida e Clara Pereira, nasceu em Cairrão, freguesia de Vila Garcia, a 5/X/1873. Formou-se em Matemática e Filosofia em Coimbra.

JOSE BAPTISTA MONTEIRO
Filho de Manuel Monteiro, nasceu no Rochoso. Formou-se em Medicina.

JOSE MARIA CABRAL LACERDA
Filho de Viriato Lusitano Cabral da Fonseca e de Filomena de Aragão da Costa Correia Lacerda da Vitória, nasceu na Guarda. Matriculou-se na Faculdade de Matemática.

LADISLAU PATRICIO
Filho de Fernando António Patrício e Adelaide Sofia Rodrigues Outeiro, nasceu a 7/12/1883, na Guarda. Matriculou-se na Faculdade de Medicina.

LEANDRO HOMEM DE ALMEIDA
Natural do Rochoso, era filho de Luís Homem Almeida. Inscreveu-se na Faculdade de Direito.

PEDRO CABRAL D’ARAGÃO DA VICTORIA
Filho de Viriato da Fonseca e de Filomena de Aragão Lacerda da Vitória, nasceu na Guarda. Matriculou-se na Faculdade de Direito.

PEDRO CABRAL, O ASSASSÍNIO DO CONDE DE TONDELA, E A QUINTA DA PONTE

15c 2
Condessa de Tondela.
O Occidente 1904
15b 1
D. José de Aragão da Costa Lacerda da Vitória.
O Occidente

O CONDE DE TONDELA
Pedro de Aragão da Costa Lacerda da Vitória nasceu a 23/X/1819 na Quinta da Ponte, situada na freguesia da Faia. Casou com Matilde Maria Correia Lacerda Lebrim e Vasconcelos, natural de Beirós, São Pedro do Sul, indo residir, mais tarde, para Aldeia Nova do Cabo (Fundão), onde construiu o seu solar. Tiveram 5 filhos: Bartolomeu (f.1873), Emília (morreu solteira), José de Aragão, Filomena de Aragão e António de Aragão.
Seu filho, José de Aragão da Costa Lacerda da Vitória, nasceu em 1844 na Quinta da Ponte, tal como seu pai. Casou com Maria Isabel Pereira Rebelo da Fonseca, filha do dr. Manuel Luís Pereira Rebelo da Fonseca, governador civil de Portalegre (1951) e Castelo Branco (1952).
Já senhor de elevada riqueza juntou ainda a da esposa. Foi destacado membro do Partido Regenerador, veio a ser presidente da Câmara do Fundão e, por decreto de 23.2.1899, 1º conde de Tondela. Grande proprietário, uma das suas principais propriedades era a Quinta da Ponte, que herdara de seu pai.
A 15-IX-1906 faleceu a esposa, e dois anos depois José.
Como não houve descendência foi seu herdeiro o irmão mais novo, António de Aragão de Lacerda da Vitória. Passou, assim, a Quinta da Ponte para a sua posse.

PEDRO CABRAL D’ARAGÃO DA VICTORIA
Filomena de Aragão da Costa Correia Lacerda da Vitória, irmã do 1º conde de Tondela, nasceu na Guarda. Casou com Viriato Lusitano Cabral da Fonseca, militar, que atingiu o posto de coronel. Tiveram 5 filhos, um dos quais Pedro Cabral d’Aragão da Victoria nascido a 9 de novembro de 1880 na Guarda, na altura em que o pai, Viriato, era capitão no Regimento de Infantaria nº 12, estacionado na cidade. Foi padrinho o general António Augusto Macedo Couto, comandante da segunda divisão militar.
Pedro Cabral foi estudar para Coimbra, matriculou-se na Faculdade de Direito em 1900, e formou-se em 1908. Pouco dias depois foi passar algum tempo em casa de seu tio, o conde de Tondela, no seu solar de Aldeia Nova do Cabo. É durante essa estadia que se dá um facto que irá surpreender e chocar aqueles povos e o próprio país. O sr. Conde, que alternava as suas estadias entre Sarnadas e Aldeia Nova do Cabo, estava a almoçar com o seu sobrinho, Pedro Cabral, quando este lhe exigiu uma elevada importância para calar uma afronta de tio, viúvo há cerca de dois anos, por manter relações amorosas com sua irmã Maria (ou Teresa). Seria, dizia, uma forma de pagar a honra da família, em seu benefício, é claro. Falsas ou não as acusações, o tio recusou e não acedeu às exigências. Neste contexto, mesmo à mesa, o sobrinho ameaça de morte o conde. E naquele mesmo instante, Pedro desfecha um tiro que atingiu o tio num olho, que, mesmo assim, procura fugir pelas escadas, em direção à porta da rua, salvadora. Não conseguiu, pois a porta já tinha sido fechada previamente e a chave guardada no bolso de Pedro. Correu sobre o tio, e ao fundo da escadaria, acabou por matá-lo. Logo a seguir tenta suicidar-se com um tiro na cabeça, mas sem sucesso, sendo conduzido para Lisboa. Foi um crime que impressionou as gentes quer pela qualidade dos intervenientes, quer pelas razões que o teriam motivado. Destas, a mais acolhida teria sido a elevada dívida de jogo contraída por Pedro de Aragão. Acabou por morrer em Lisboa.

A QUINTA DA PONTE

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Quinta da Ponte, finais séc. XIX. Col. Ana Manso

A Quinta da Ponte, com o seu solar do séc. XVIII, capela e jardim, situada na freguesia da Faia, destaca-se no conjunto de boas propriedades e casas solarengas do chamado vale do mondego. O nome advêm-lhe, é bem de ver, da ponte que lhe está adoçada.

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Quinta da Ponte, finais séc. XIX. Col. Ana Manso

Investigador em história local e regional

Sobre o autor

Francisco Manso

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