Unidades únicas

«A diferença é que na Lituânia, essa distância se mede em quilómetros, e em Portugal, é “mais dia, menos dia”»

Num país onde faz muito frio e o céu limpo pode durar apenas umas horas, é normal que o clima seja não apenas um tema de conversa sério, mas seja também medido com uma precisão matemática. As pessoas estão sempre informadas sobre a temperatura, a humidade e até a sensação térmica em números precisos. À hora a que escrevo, estão 18 graus, 25% de humidade e sensação de 17.
Passa-se o mesmo com as distâncias. Kaunas fica a 108 quilómetros de Vilnius, o mar está a 320 quilómetros daqui, mas a Bielorrússia, a apenas 33.
Ora, para um português, mesmo a viver no estrangeiro, temperaturas, distâncias e pesos não se medem exactamente pela mesma escala da Conferência Geral de Pesos, que regula as unidades de medida a nível internacional. A escala portuguesa, que os povos bárbaros do Norte não querem entender, tem duas particularidades: é essencialmente comparativa e abusa dos diminutivos.
Nas primeiras semanas aqui, a temperatura mínima chegou a menos 22 graus. O leitor faz ideia do que são 22 graus abaixo de zero? Eu também não. Mas se ler na meteorologia que está um frio do catano, ou que até os pelinhos se eriçam, imediatamente se apercebe da escala de que se fala. Eu não quero saber se estão 20 graus ou 60% de humidade. O que preciso de saber é se está fresquinho ou um calor que não se aguenta.
O cálculo das distâncias, para um português, funciona de forma semelhante. As cidades lituanas na costa do Báltico são longe como o caraças, e o país de Lukashenko fica aqui a um saltinho. Isto sim, é o sistema métrico lusitano. Em termos de comparação, estou tão perto de uma ditadura socialista como se estivesse em Portugal. A diferença é que na Lituânia, essa distância se mede em quilómetros, e em Portugal, é “mais dia, menos dia”.
Tal como no resto do mundo ocidental, também no norte da Europa, muitas pessoas ultrapassam os 100 quilos de peso. Em Portugal, a escala indica que esse indivíduo, conforme o sexo, está gordo como um texugo ou como uma baleia.
Como escrevi no primeiro parágrafo, agora está sol. Só que as previsões apontam para um resto da semana meio farrusquito. Por isso, vou aproveitar para sair, que está bonzinho. Mas porque o vento é frescote como o raio que o parta, talvez seja melhor levar um casaquinho.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
Nuno Amaral Jerónimo está em Vilnius a convite da Vilnius Tech University

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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