Estudantes da Guarda na Universidade de Coimbra 1920-21

Escrito por Francisco Manso

“O desenvolvimento da cidade foi a morte da confeitaria e das célebres “Cavacas da Guarda”. Fica a memória.”

Mais um punhado de estudantes da Guarda que parte para Coimbra em busca de um futuro melhor e, sobretudo, para cumprir um sonho dos pais. Uns terão sucesso, outros, nem por isso. José dos Reis era filho de gente humilde, que veio para a Guarda onde montaram um negócio, a Pastelaria Confeitaria Reis. Foi um sucesso, prova disso: um filho na Universidade! O desenvolvimento da cidade foi a morte da confeitaria e das célebres “Cavacas da Guarda”. Fica a memória.

António Júlio de Quintanilha Mantas

Filho de Júlio Marques das Neves Mantas e Alice Maria da Conceição Quintanilha e Mendonça, nasceu na Guarda. Matriculou-se na Faculdade de Ciências. Pertenceu à Junta Escolar do Integralismo Lusitano.
Pertencia a uma das famílias mais destacadas e abastadas da cidade. Eram proprietários, comerciantes, funcionários públicos e até agiotas. O pai, Júlio Mantas, era gerente do Banco Nacional Ultramarino e agente das companhias de seguros Fidelidade e Previdência na Guarda. Em 1915 era vice-cônsul de Espanha.

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Ernesto da Trindade Pereira

Filho de Abel Pereira e de Maria da Conceição Trindade Pereira, nasceu na Guarda a 9 de fevereiro de 1903.
Matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em 1921, mas acabou o curso em Lisboa. Começou por exercer advocacia na Guarda, mas pouco depois mudou para Pinhel. Em 1926 casou com Dulce da Silva Carvalho Pereira, natural de Freixedas (Pinhel). Foi nomeado presidente da Câmara Municipal da Guarda em 1946 e Governador Civil da Guarda em 1947. Foi presidente da Comissão Distrital da União Nacional. Em 1952 foi nomeado presidente do Tribunal de Contas. Faleceu a 23 de julho de 1966.

Francisco António de Jesus

Filho de João António de Jesus, nasceu em Gonçalo. Matriculou-se na Faculdade de Ciências.

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Joaquim António de Pina

Filho de Manuel António Pina, nasceu na Guarda em 1898. Matriculou-se na Faculdade de Medicina. Família popular na cidade, constituída por proprietários, negociantes, funcionários camarários e comerciantes de cera, tripa seca, solas, cabedais, sapataria, livraria…

José dos Reis

Filho de Ayres António dos Reis e de Eduarda Rodrigues dos Reis, nasceu na Guarda. Matriculou-se na Faculdade de Medicina. Foi cirurgião nos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Luís Pinto dos Santos Cardoso

Filho de José dos Santos Cardoso, era natural de Pera do Moço. Matriculou-se na Faculdade de Ciências.

António Nunes Patrício

Filho de Francisco Nunes Patrício, era natural da Guarda, mas ligado a Fernão Joanes. Matriculou-se na Faculdade de Medicina.

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Pastelaria Confeitaria Reis

Propriedade de Ayres António dos Reis e de Eduarda Rodrigues dos Reis, era, do género, a casa mais fina da Guarda.
Ayres António, filho de João António dos Reis e Maria da Luz Canotilho, nasceu em Pinhel. Eduarda, filha de Manuel Marujo e Cândida Rodrigues, nasceu em Santo Estêvão (Sabugal). Conheceram-se no Porto e ali casaram. Pouco depois, no início do séc. XX, por pressão do irmão, João António Ayres, que virá a ser um renomado fotógrafo nacional, e talvez da família Canotilho, de quem eram parentes e conterrâneos, decidem ir viver para a Guarda, onde aqueles já residiam. Arrendam uma casa na Rua da Torre, então uma das principais artérias da cidade, onde já se encontram instalados em 1908. O negócio estava ligado à confeitaria, pois Ayres António era doceiro, arte que já vinha dos seus tempos de Pinhel, terra de afamadas cavacas conventuais, e que passaram a ser a sua especialidade.
O sucesso foi grande e, por isso, não admira que, acompanhando o desenvolvimento da cidade, tenham decidido mudar de instalações para uma artéria mais em moda, a Rua Alves Roçadas, que até 1907 tinha sido a Rua do Paço do Bispo. A casa, uma das melhores da Guarda, de Mendo Saraiva, passou depois para José Freire de Carvalho Falcão, seu herdeiro. Em 1931 a família Aires realiza grandes obras de remodelação e instala um bilhar, então ainda um luxo na Guarda. O primeiro tinha sido na Rua dos Clérigos e o segundo, em 1880, na Rua Direita, num “café” de Joaquim Tomaz Gil.
Depois da morte de Ayres António, a pastelaria ficou sob a direção dos irmãos Manuel (1904-1960) e Joaquim, sendo este o confeiteiro e herdeiro dos segredos transmitidos pelo pai. A mãe, dona Marquinhas, então já de idade avançada, abria religiosamente as portas do estabelecimento, juntamente com o Benjamim (veio a ser advogado em São Paulo, Brasil) e a Deolinda, empregados da casa. Com a morte do “Quinzinho”, ainda novo, o segredo passou para as irmãs “Miquinhas” e “Eduardinha”. A confeção das cavacas da Guarda era tão bem guardada que Deolinda, apesar de ali ter trabalhado mais de 50 anos, nunca o conseguiu descobrir. E bem o tentou!
Em 1949, como o edifício provocava um grande estrangulamento entre a Rua Marquês de Pombal e a Igreja da Misericórdia, foi deitado abaixo. Foi reconstruído, recuperando os materiais do anterior, mas mais recuado, tal como o conhecemos hoje. As alterações que acarretou em termos comerciais foram significativas, quase radicais, levando ao encerramento das lojas que ali existiam, incluindo a Pastelaria Confeitaria Reis. Para trás ficou, entre outras, a Casa Vinhas, do sr. Manuel Vinhas, que ficava logo ao lado, e passou para um recanto do Café Mondego. Em 1956 o prédio estava pronto a habitar, para um dos baixos transferiu-se a Sociedade de Transportes Lda., que antes estava na Rua Marquês de Pombal, e no outro instalou-se a “Arte Portuguesa”. No piso superior instalaram consultório os médicos Afonso Paiva, Monteiro Paiva, Campos Castelo e Pereira da Silva.
Nasceu um prédio de qualidade, mas foi o fim da Pastelaria Confeitaria Reis e das Cavacas da Guarda! Fica o seu registo…

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Sobre o autor

Francisco Manso

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