Estatísticas dos preços da habitação no litoral e no interior do país – Os gigantes e os anões

Enquanto Lisboa, Cascais, Loulé, Oeiras, Lagos, Albufeira e Tavira registaram preços medianos de habitação superiores a 1500 €/m2, e o Porto viu aumentar os preços em +24,7%, os valores na ‘Beira Interior’ alargada a Viseu ficam-se entre os 527 €/m2 da nut (sub-região) da Beira Baixa, os 484 das Beiras e Serra da Estrela e os 638 de Viseu Dão Lafões. Os valores medianos para Portugal inteiro, Continente, Norte, Centro e Alentejo, respectivamente, 969, 970, 813, 731 e 640 €/m2. São urgentes políticas públicas que promovam o desenvolvimento equilibrado do país sob pena de uma grande parte dele virar coutada de caça para estrangeiros e endinheirados do Litoral…
No passado dia 30 de outubro de 2018 vieram a público os preços da habitação em Portugal, incluindo do Litoral com as grandes cidades de Lisboa e Porto e do interior. “As estatísticas publicadas pelo INE dizem respeito aos preços medianos em €/m2 (e não médios) que surge nos contratos celebrados no 2º trimestre de 2018. O INE divulga uma nova edição das Estatísticas de Preços da Habitação ao nível local permitindo assim ampliar o conhecimento sobre o mercado de transações de imóveis destinados à habitação. Nestas estatísticas toma-se a mediana (valor que separa em duas partes iguais o conjunto ordenado de preços por metro quadrado) como referência para os preços de venda de alojamentos familiares (€/m2), o que permite reduzir o efeito de valores extremos na leitura do comportamento tendencial do mercado à escala local. A mediana é determinada no período anual terminado no 2º trimestre, eliminando-se possíveis efeitos sazonais no comportamento dos preços e aumentando-se assim o detalhe geográfico de apresentação de resultados.”
Análise global para o país: ‘No segundo trimestre de 2018 (últimos 12 meses), 38 municípios, localizados maioritariamente no Algarve e na Área Metropolitana de Lisboa, apresentaram um preço mediano de venda de habitação superior ao valor nacional. O município de Lisboa (2753 €/m2) registou o preço mediano mais elevado do país e com valores acima de 1500 €/m2 destacaram-se ainda os municípios de Cascais (2100 €/m2), Loulé (1846 €/m2), Oeiras (1819 €/m2), Lagos (1744 €/m2), Albufeira (1631 €/m2) e Tavira (1594 €/m2). O Porto destacou-se por registar, pela primeira vez desde o primeiro trimestre de 2016, o segundo maior preço mediano de alojamentos familiares (1 460 €/m2), após Lisboa e ultrapassando o valor da cidade do Funchal (1439 €/m2). A cidade do Porto registou também a taxa de crescimento mais expressiva, relativamente ao período homólogo (+24,7%), entre as cidades com mais de 100 mil habitantes.’
De notar que todos os 30 municípios com valores medianos mais elevados estão localizados no litoral nenhum pertencendo ao interior do país e que os 30 com piores medianas todos eles são dos Açores (2), Norte (10), Centro (13), Alentejo (4) e Madeira (1). E ainda que dos 13 da R. Centro 6 são das Beiras e Serra da Estrela, 3 da Beira Baixa os restantes 4 são de outras regiões.
Análise dos dados para a Beira Interior Alargada: Incluímos na análise as regiões da Guarda, Castelo Branco e Viseu, donde a designação de BI alargada. Os preços medianos oscilam, na BI Alargada, entre os 152 €/m2 de F. C. Rodrigo e 168 de Penamacor, os mais baixos, e os valores dos concelhos de Castelo Branco – 603 €/m2, Guarda – 609, Covilhã – 611 e Viseu – 813 €/m2.

Na Região da Beira Baixa (e Médio Tejo) os valores oscilam entre os seguintes Penamacor-166, Idanha-a-Nova-224, Vila de Rei-273, Oleiros-297, Vila Velha de Ródão-354, Proença-a-Nova-397, Abrantes-507, Beira Baixa-527, Sertã-552, Médio Tejo-568, Castelo Branco-603€/m2.
Na região das Beiras e Serra da Estrela os valores oscilam, do menor para o maior entre Figueira de Castelo Rodrigo-152€/m2, Trancoso-188, Almeida-216, Celorico da Beira-239, Pinhel-275, Sabugal-276, Mêda-296, Fornos de Algodres-317, Gouveia-326, Seia-377, Manteigas-410, Belmonte-462, Beiras e Serra da Estrela-484, Fundão-497, Guarda-609 e Covilhã-611€/m2.

Para efeitos comparativos indicam-se ainda os valores dos contratos da região de Dão-Lafões Viseu os valores do menor ao maior são os seguintes: Aguiar da Beira – 221€/m2, Castro Daire – 292, Vila Nova de Paiva – 334, Penalva do Castelo – 380, Carregal do Sal – 415, Vouzela – 420, Mangualde – 432, Nelas – 449, Sátão – 465, Santa Comba Dão – 490, Oliveira de Frades – 515, São Pedro do Sul – 557, Tondela – 569, Viseu Dão Lafões – 638 e Viseu- 813 €/m2.
Síntese conclusiva – ou a necessidade de formular políticas desenvolvimentista para o Interior: Estes valores mostram discrepâncias enormes entre os 308 municípios portugueses o que tem que ver com as grandes diferenças de níveis de desenvolvimento do País. Os dados mostram amplitudes demasiado grandes entre os gigantescos preços por m2 do litoral do país (qual Gigante) e os diminutos preços medianos por m2 do Interior do país (qual Anão). Isto remete para a necessidade imperiosa de promover o desenvolvimento económico-social do interior do país, de aí instalar empresas e serviços – nacionais ou multinacionais – e de aí criar empregos/postos de trabalho que atraiam gente jovem – nacional ou estrangeira – pois só dessa forma ela se fixará na imensa região do inland, que ocupa certamente 75% a 80% do território nacional, isto antes que essa imensa área se converta numa vasta coutada para estrangeiros e para os habitantes endinheirados do litoral irem fazer as suas caçadas…
Fonte: www.ine.pt, opção Informação Estatística, Dados Estatísticos, Base de dados.
Anexo: ordenação do maior ao menor dos valores da mediana por m2 (a negrito os valores dos concelhos das BSE

* Prof Catedrático, Universidade da Beira Interior, Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social

Sobre o autor

José Ramos Pires Manso

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