O termo aselha significa pequena asa. O que seria de um pássaro se em vez de um par de asas normais tivesse uma delas mais pequena que a outra? O seu voo seria desajeitado, caótico e errático. Mas o termo costuma ser utilizado para classificar uma pessoa desajeitada em alguma coisa. É, no que se segue, o que acontece quando temos condutores com “asas assimétricas” para a condução.
No ambiente urbano um tipo de aselha é o que nunca sabe situar espacialmente o seu veículo num espaço de estacionamento, mesmo que este esteja claramente marcado no pavimento, seja ele em espinha ou em linha e, por isso, trata de roubar dois ou mais lugares aos seus concidadãos, não tentando sequer corrigir o erro mesmo que dê conta. Alguns fazem de propósito porque como têm um problema com a marcha-atrás insistem em estacionar em linha, de frente, deixando pelo menos meio carro de espaço para o de trás; outro tipo é o que insiste em travar antes de sinalizar a intenção de mudar de direção e o terceiro é o que, por norma, tende a fazer saltar para vermelho semáforos de velocidade, obrigando a parar todos os outros que, cautelosa e nervosamente, controlavam a sua. Claro que um só aselha pode acumular estes predicados e muitos outros na sua carteira de aselhices, como são os casos que se seguem.
No ambiente extraurbano há um tipo de aselha que irrita especialmente, é o que insiste em ocupar a faixa do meio das autoestradas mesmo que a via mais à sua direita se encontre livre. Estes obrigam o condutor consciencioso a fazer autênticas diagonais de costa a costa para proceder a uma ultrapassagem ou o menos consciencioso e mais visceral a manter a sua posição e ultrapassar o aselha pela direita mostrando-lhe o dedo do meio ou pregando-lhe umas valentes buzinadelas; há ainda condutores com a abordagem “BT em veículo descaraterizado” que consiste em fazer sinais de luzes de forma frenética enquanto ocorre a aproximação ao aselha na faixa do meio até que este, sabendo que o que faz desde sempre é ilegal mas insiste em fazê-lo porque é mais cómodo, encoste à direita com o susto.
Há uma subespécie de aselha que só aparece em Espanha. Para além de amar circular na faixa do meio, insiste em iniciar as ultrapassagens quando outro veículo já se encontra prestes a ultrapassá-lo, originando autênticas travagens “a pés juntos” das suas vítimas de modo a evitar um acidente – estes são os aselhas-suicidas. Os aselhas-cautelosos optam por iniciar as ultrapassagens a 500 metros dos veículos que os precedem aumentando, para isso, em cerca de 5 km/h a sua velocidade e demorando eternidades a concluí-la e a “desampararem a loja” aos veículos que há minutos nervosamente esperam que o “parto” se conclua. É de cortar os pulsos.
Há ações dos condutores que podem ser mais perigosas que algum excesso de velocidade, como são os casos de circulação irregular em autoestrada nos termos expostos ou outros, como falar ao telemóvel, enviar mensagens, consultar mails ou outras atividades “online” enquanto se pilota e que deveriam ser prioritárias, quer na punição quer na prevenção, porque geram situações potencialmente perigosas para outros, levando-os, por vezes, em resposta às aselhices a cometerem infrações como ultrapassagens pela direita, colagens à traseira ou outras ações de “faca-nos-dentes” que resultem de um estado de nervosismo provocado pelos primeiros. Parece-me que há tendência por parte das autoridades em coletar o dinheiro fácil dos contribuintes (como se não bastassem já os municípios e as Finanças). É muito mais cómodo colocarem-se em locais estratégicos, em modo camuflado, em pontos que nem sempre são negros, mas que dão muito jeito para grandes multas por excesso de velocidade e para os objetivos do mês.
Porque nem sempre é fácil o “perdoar e esquecer” na estrada, a história está cheia de incidentes mais ou menos graves que tiveram origem em aselhices sempre dos outros porque ao volante das nossas viaturas somos, na nossa perspetiva, por vezes solitária, os melhores condutores do mundo, daí a portuguesíssima expressão: “Estás com pressa? Passa por cima”.
Por: José Carlos Lopes