Tornou-se quase moda falar de direita e de esquerda para colar rótulos que, na atual conjuntura, substituam a falta de referências ideológicas na ação política.
O perigo é que a moda tira importância às coisas, cria o hábito que é inimigo da reflexão, mas não faz esquecer o problema ideológico que necessita de ser meditado.
Sabe-se que originariamente a expressão direita e esquerda se utilizou em França, para referir a composição do Parlamento francês saído da revolução de 1789, um tempo de intensa agitação política, que marcou o seu tempo e influenciou as ideias no mundo.
A esquerda pretendia assim englobar forças revolucionárias, de matriz marxista e cariz socialista, e a direita representaria as ideias conservadoras, de matriz liberal e cariz capitalista.
A relativa fluidez das expressões direita e esquerda nunca teve uma clara referência ideológica, sendo pelo contrário utilizada na falta de um discurso ideológico consistente.
Ora acontece que todas as forças ditas de esquerda têm em comum o método de análise socioeconómica sobre as relações de classe e conflito social, que utiliza uma interpretação materialista do desenvolvimento histórico e uma visão dialética de transformação social conhecida como marxismo.
Teoria apresentada como científica que, todavia, a ciência demonstrou a sua não verificação.
Ao contrário do previsto por Marx, o capitalismo evoluiu de economia de mercado para Estados com sistemas de proteção social, garantindo a pluralidade política, ao contrário dos regimes de influência marxista, que só subsistem em Estados ditatoriais de partido único.
A caracterização do nosso sistema político e da União Europeia é de uma economia de mercado, de livre concorrência, de residuais funções soberanas dos Estados, com sistemas de proteção e garantia social para a generalidade da população, enfim, um sistema de cariz capitalista.
Só nos sistemas de cariz capitalista é que existe democracia política, pois, como se sabe, em todos os Estados de cariz socialista existe um partido único e uma ditadura política.
Neste contexto a referência a partidos de esquerda e direita no nosso sistema político é paradoxal, pois todos eles governam com políticas de direita, de matriz capitalista, embora pareçam não saber!
Ou então pretendem enganar muitos!
* Presidente da Assembleia Distrital do PSD, antigo presidente da Câmara de Trancoso e ex-líder da Distrital do PSD da Guarda