Espanha em suspenso

“Espanha é a quarta economia europeia e uma potência mundial, um país moderno e mercado determinante para a economia portuguesa”

As eleições em Espanha trouxeram, de novo, um impasse sobre a próxima governação de nuestros hermanos. O resultado eleitoral apresenta um bloqueio político que ameaça mesmo o regresso às urnas antes do final do ano. Espanha entra numa fase de enorme incerteza política e de complexa governabilidade.
O Partido Popular venceu, mas não conseguiu maioria absoluta. E o seu aliado de extrema-direita, o VOX, foi o grande derrotado nestas eleições, perdendo 19 deputados. Assim, dificilmente Nuñes Feijóo poderá ser eleito presidente do próximo governo espanhol (PP e VOX elegeram 169 deputados e poderão também contar com o deputado eleito pela UPN, ou seja, a direita tem 170 deputados, a seis da maioria – o PNV já deixou claro que não apoiará a investidura do PP). O PSOE elegeu 122 deputados, um excelente resultado para Pedro Sánchez, e por isso a sua liderança saiu reforçada, e até pode formar governo com o apoio de todos os partidos de esquerda, extrema-esquerda e dos independentistas. Mas o bloco da esquerda e independentistas moderados não chega para o PSOE formar governo – faltam-lhe os votos dos sete deputados de Junts per Catalunya de Carles Puigdmont, que já deixaram claro que não apoiarão a nomeação de Sanchez, salvo se o ainda líder do governo espanhol ultrapassar as linhas vermelhas: apoiar um referendo à independência da Catalunha e amnistiar os independentistas do “procés” (como Carles Puigdmont, que continua exilado em Waterloo).
A situação de impasse resultante do último domingo deverá levar mesmo a novas eleições. Como titulava segunda-feira o diário “El Mundo”, «España se hunde en la incertidumbre: un país ingobernable o nuevos comícios en Nochebuna». E acrescenta mesmo datas prováveis para a próximas eleições 17, 24 ou 31 de dezembro, depois de, no Editorial, se explicar a improbabilidade de no parlamento haver apoio a um governo do PP e a dificuldade de Pedro Sánchez se juntar a «todos os independentistas», depois de receber o apoio de «todas as esquerdas», para aprovar um novo governo. Ocorreu o mesmo em 2015. Então, o partido mais votado foi o PP, de Mariano Rajoy, mas sem maioria parlamentar houve novas eleições que a esquerda ganharia e, seguindo o exemplo português, formou-se uma geringonça que tem governado Espanha.
Em discussão está também a superioridade que as sondagens davam à direita, com todos os estudos de opinião a darem uma grande vitória ao PP (entre 150 e 160 deputados) que não se confirmou. E os erros de campanha que os populares cometeram, nomeadamente a decisão de Feijóo de não participar no último grande debate na TVE com Yolanda Diaz, Pedro Sánchez e Santiago Abascal, um erro crasso que lhe deverá custar ser eleito presidente do governo espanhol. Notar ainda que o PSOE perdeu em grande parte de Espanha para o PP, mas ganhou de forma histórica na Catalunha, superiorizando-se de forma avassaladora aos partidos independentistas. Aliás, com estas eleições nasce um novo tempo na Catalunha, um tempo em que os socialistas passam a ser a força mais votada e a autodeterminação já não passará por alimentar o conflito com o Estado espanhol.
Espanha é a quarta economia europeia e uma potência mundial, um país moderno e mercado determinante para a economia portuguesa. O que ocorre em Espanha é decisivo para Portugal.
Os próximos dois meses serão de negociações, mas quando Felipe VI convocar o partido mais votado para formar governo será Pedro Sanchéz a responder que terá de haver novas eleições.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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