O capataz de Trump para os assuntos putineiros, um senhor chamado Witkoff, teve uma ideia peregrina: na Ucrânia, quem fala russo, está cheio de vontade de ser cidadão russo. Sem ser preciso ir muito mais longe do que o seu próprio país, aguardo pela vassalagem de Washington a el-Rei Carlos III, porque mesmo quando é usado por imbecis, o idioma falado na Casa Branca é inglês. Segundo a teoria acima narrada, os EUA estão prestes a devolver ao México o sul do Texas e metade da Califórnia, e a entregar Miami a Cuba e à República Dominicana.
Por aqui, obviamente que não se aplicaria tal regra ao Brasil, que alterou significativamente, e com grande sagacidade e maestria, o seu português para que nunca mais se pudessem fazer tais inferências. Até porque seria absurdo dizer que quem fala português sul-americano quer ser português de nacionalidade, quando nem sequer os que falam a variante europeia local têm assim tanta vontade de o ser. Por um passaporte nórdico, aprendo sueco num piscar de olhos.
O senhor Orban – olha quem – veio juntar-se à retórica ameaçadora (e mentirosa) em defesa da língua e cultura húngara nas regiões fronteiriças da Ucrânia. Agora a moda é usar a protecção do idioma nacional como forma de justificar guerras e boicotes. Excepto em Portugal, onde a língua é tratada a pontapé pelo famoso acordo ortopédico, e na Bielorrússia, onde o Donaltim de Putin, um matarruano de kolkhoz, põe na rua ou na prisão professores e funcionários que tenham o desplante de utilizar a língua nacional – o bielorrusso – para ensinar ou conversar. O senhor Alyaksandr Lukashenka (escrevo o nome dele em bielorrusso, que é a sua língua materna) tenta a abordagem Witkoff pelo outro lado: se obrigar os bielorrussos a falar apenas russo, é muito provável que os capangas de Trump nem sequer se lembrem que a República de Belarus existe.
Se Steve Witkoff visitasse a Ucrânia ficaria confundido com a quantidade de pessoas que usam russo como língua veicular de rua, mas que odeiam os veículos russos que invadiram e atacam as suas ruas.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia