Nasci e cresci na Guarda. Tal como grande parte dos jovens de então, fiz o meu percurso académico num grande centro urbano, onde ainda iniciei a minha atividade profissional. Há cerca de 26 anos regressei à Guarda e desde então sou testemunha do seu caminho.
O meu regresso não foi um processo fácil e, olhando para a cidade no presente e projetando o futuro, não sei se agora a decisão seria a mesma. A cidade da Guarda, tal como outras capitais de distrito do interior, é hoje, como já era há alguns anos, das menos desenvolvidas, havendo uma diferenciação negativa em relação ao litoral.
É evidente que hoje temos melhores condições de vida do que nos anos 80 e 90, muito por culpa da nossa adesão à UE do que por alterações no nosso modelo económico-social. Ainda que com alguma décalage em relação ao litoral, a Guarda melhorou as suas infraestruturas com um teatro novo, piscinas, hospital, biblioteca, entre outras. Apesar de tudo isto, está a perder a sua vitalidade social e cada vez mais se verifica o êxodo da sua população residente para outros centros urbanos económica e socialmente mais atrativos.
Não há desenvolvimento sem pessoas e para as fixar é necessário criar atratividade, facilitando a interação dentro da região e com outras.
O problema é profundo e não basta a canalização de verbas, sendo necessário a reavaliação do modelo instituído, fazendo mudanças estruturais, que demoram mais tempo e não são tão visíveis, mas que seriam mais eficazes.
Cada cidade, vila ou aldeia é diferente em dimensão e características, não sendo meros aglomerados humanos. É necessário olhar para elas, respeitar as suas tradições, cultura e formas de vida, no fundo compreendê-las, para conseguir planos de desenvolvimento capazes de captar investimento e emprego. Isto só será possível apostando na formação, nos recursos endógenos, na cultura e na captação de novas tecnologias.
Se no futuro quisermos outro país, com mais equidade, é tempo de mudar a forma como olhamos para o interior e para a Guarda em particular. Todos temos obrigações neste processo e deveríamos exigir que as políticas locais e nacionais passem a ser para todos.
Diretora do Serviço de Patologia Clínica da ULS da Guarda