Doenças reumáticas na gravidez

Escrito por Nádia Martins

“A doença reumática não controlada representa uma ameaça ao bem-estar materno-fetal. Assim, apesar do receio que a maioria das mulheres manifesta por ter de fazer medicação durante a gravidez, a manutenção da terapêutica imunossupressora em determinadas doenças, utilizando apenas aquelas com menor risco fetal, permite evoluções favoráveis na maioria das gravidezes.”

A Reumatologia é das poucas especialidades que tem o privilégio de contactar com doentes de todas as idades: criança e adolescente, adulto (incluindo a mulher na fase da gravidez) e idoso. As doenças reumáticas sistémicas apresentam, na sua maioria, um predomínio de género, afetando preferencialmente mulheres, com um pico de incidência durante a idade fértil. Por esta razão, o médico reumatologista é confrontado frequentemente na sua prática clínica com mulheres que manifestam o desejo de engravidar.
No passado, estas doentes eram aconselhadas a não engravidar devido à morbi-mortalidade materno-fetal e devido à influência complexa das hormonas da gravidez no sistema imunitário. A gravidez provoca alterações no sistema imunitário materno de forma a permitir a sobrevivência fetal. Estas alterações podem, “per se”, causar um agravamento das doenças reumáticas. Por outro lado, a disfunção imunitária pré-existente, que caracteriza estas doenças, pode também afetar a evolução da gestação, aumentando o risco de aborto, prematuridade e morte fetal em alguns casos. Apesar desta complexidade, a melhor compreensão da interação entre a gravidez e as doenças reumáticas mudou a forma de aconselhamento destas mulheres.
Está demonstrado que com o controlo da doença e a monitorização rigorosa destas mulheres durante a gestação não há razão para a maioria delas não engravidar, particularmente quando existe um seguimento médico conjunto entre o reumatologista e o obstetra. A influência da gravidez sobre a atividade da doença, o impacto da doença sobre a evolução gestacional, a potencial toxicidade das terapêuticas utilizadas, a capacidade de distinção entre as alterações fisiológicas produzidas pela gravidez e a exacerbação da doença de base fazem da gravidez um desafio para o médico. Por estas razões, a gravidez deve ser planeada de forma a ocorrer num momento em que a doença esteja controlada e após o ajuste da medicação, utilizando apenas terapêuticas seguras para o feto, de forma a aumentar a probabilidade de sucesso gestacional.
A doença reumática não controlada representa uma ameaça ao bem-estar materno-fetal. Assim, apesar do receio que a maioria das mulheres manifesta por ter de fazer medicação durante a gravidez, a manutenção da terapêutica imunossupressora em determinadas doenças, utilizando apenas aquelas com menor risco fetal, permite evoluções favoráveis na maioria das gravidezes.
Desta forma, toda a doente que pretenda engravidar deve informar o seu médico assistente quanto a esta vontade. A consulta pré-concecional constitui a melhor opção de forma a garantir o futuro bem-estar materno e fetal. Uma vez confirmada a gravidez, a rigorosa vigilância materna e pré-natal e a intervenção precoce permitem o sucesso da gravidez na maioria das doentes.

* Médica reumatologista no Hospital CUF Viseu

N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.

Sobre o autor

Nádia Martins

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