1. Portugal vive em sobressalto. Não, não é por causa das eleições, porque um ato eleitoral é sempre basilar em democracia e a campanha (ou pré-campanha) tem sido ordeira. Aliás, ao contrário do que a maioria dos comentadores diz, esta é a primeira vez, em muito anos, que o cidadão comum evidencia interesse ou curiosidade em acompanhar e ouvir os candidatos e promessas eleitorais dos partidos (a abstenção pode não cair, mas as audiências televisivas estão muito acima do habitual). O modelo dos debates televisivos pode não ser o mais apreciado pelas elites ou pelos políticos, com mensagens rápidas e pouca explicação programática, mas pelo menos têm a virtude de levar o cidadão a acompanhar, ouvir os candidatos e saber o que vão propondo e dizendo (não há dúvidas que, estranhamente, há uma enorme indulgência de ideias e temas e é absurdo que não se fale da Europa, da guerra ou da coesão territorial…). Pior, no debate entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos nem sequer se falou de juventude, do futuro das novas gerações ou de como se pode reter ou atrair o talento essencial para o futuro do país. Ou de sermos um dos países com mais baixa taxa de natalidade do mundo, uma tragédia que parece não preocupar os nossos futuros governantes. E isso devia provocar grande sobressalto aos portugueses e aos candidatos…
Mas é a justiça que nos sobressalta. Caiu um governo da República e demitiu-se um primeiro-ministro; caiu o governo regional da Madeira; temos imensas investigações que têm parido ratos… e, diz-se, o Ministério Público funciona em roda-livre. E diz-se também que a Justiça funciona, porque depois de três putativos corruptos estarem presos 21 dias saem em liberdade com um “mero” termo de identidade e residência, pois não foram encontrados indícios de corrupção (segundo o juiz de instrução), depois do espetáculo que se viu no aeroporto do Funchal. Não, isto não é a Justiça a funcionar.
Depois da entrevista, em novembro, do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, em que Henrique Araújo denunciou a «corrupção instalada» em Portugal e criticou o poder político pela falta de vontade em fazer do setor judicial uma prioridade, obviamente, o Ministério Público tinha de atuar em conformidade… Estas declarações do presidente do Supremo foram um alerta, e foram levadas muito a sério pelo Ministério Público. Tanto que passaram a ver corrupção em todo o lado.
Como consequência, a Justiça intrometeu-se na vida política, e de que maneira. A independência do poder judicial é elementar em democracia, mas a sensação é de poder discricionário e excessivo do ministério público…
2. Sobre os debates, já se ouviu de tudo, desde a mentira de Mariana Mortágua sobre a avó à incoerência de Rui Tavares sobre a defesa da escola pública, com filhos a estudar numa escola internacional (privada), passando pela aldrabice constante de André Ventura, mas o mais relevante é o equilíbrio que Pedro Nuno recuperou no debate com Luís Montenegro – depois de ter revelado menos força e menos solidez nos debates anteriores – um debate em que o líder socialista voltou a ser combativo e pró-ativo equilibrando a balança dos candidatos a primeiro-ministro agora que vamos entrar na campanha.
Por cá, o jornal O INTERIOR, em parceria com a Rádio Altitude e o NERGA, vai fazer o único debate no distrito da Guarda com os cabeça de lista de todos os partidos com assento na Assembleia da República dia 29, no auditório da Associação Empresarial. E no dia 4 de março faremos na Rádio Altitude o frente-a-frente entre as cabeças de lista dos dois partidos que elegeram deputados nas últimas legislativas: Ana Mendes Godinho, do PS, e Dulcineia Catarina Moura, do PSD. Isto é serviço público. Um serviço público prestado pelo NERGA, pela Rádio Altitude e por O INTERIOR em prol do distrito da Guarda, dos cidadãos, das empresas, da liberdade e da democracia, 50 anos depois de Abril!