Os grandes incêndios de agosto de 2022 passaram por Manteigas e pelo Vale Glaciar do Zêzere, devastaram o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) e ameaçaram localidades como Vale de Amoreira e Sameiro (Manteigas), Videmonte, Valhelhas, Famalicão da Serra e Gonçalo (Guarda), os Casais de Folgosinho, Figueiró e Freixo da Serra (Gouveia), a Carrapichana e Linhares da Beira (Celorico da Beira). Mas também a Mizarela e Aldeia Viçosa (Guarda) e o Colmeal da Torre (Belmonte). Ainda devastou zonas em Nabais (Gouveia), Pinhanços (Seia) e entrou em zonas do concelho do Sabugal. Foi um dos maiores incêndios da região. E foi um flagelo de que os locais não se esquecem e que não podemos deixar esquecer, pela destruição e pelos planos e promessas feitas por governantes nacionais e locais – a recuperação do território, a reflorestação da Serra, a planificação para o futuro e a prevenção não podem ser esquecidas: o melhor combate ao fogo faz-se a partir da prevenção e da planificação.
Foi há exatamente dois anos. Começou a 6 de agosto, na Vila do Carvalho (Covilhã), e só parou depois de ter consumido 25 mil hectares de mato e floresta, correspondentes a 25 por cento desta área protegida. Chegou a Sameiro, perto de Manteigas, ao sexto dia de um fogo que parecia não ter fim.
Dois anos depois, uma equipa de reportagem de O INTERIOR e da Rádio Altitude foi a Sameiro e andou pela Serra da Estrela, pelos trilhos da destruição, nos caminhos do fogo, nas veredas agrestes onde nem os bombeiros conseguiram chegar, para falar com as pessoas que naqueles dias viveram o terror das labaredas. São poucas. Cada vez menos. São pessoas que resistem e ainda vivem entre as encostas que há dois anos sucumbiram ao maior incêndio dos últimos anos na Serra. E são idosas. Não têm para onde fugir. Nem querem fugir. Querem continuar nos seus lugares, nas suas terras, na sua serra. Querem seguir num território de natureza morta e abandonada, num cenário que ainda é desolador. Mas as encostas verdejantes de sempre, começam a recuperar o verde. É a natureza a renascer na Serra da Estrela. É a natureza a recuperar a vida das encostas de Sameiro e Manteigas. Mas os planos prometidos de recuperação tardam. A vida que o fogo levou, não volta. Mas as promessas de reflorestação têm de avançar. A equipa de reportagem foi à procura de encontrar o que sobreviveu ao fogo, mas, ainda mais, o que está a ser feito para dar vida e futuro ao PNSE e encontrou a desilusão, o esquecimento, os resquícios da destruição. Procurámos ver o que mudou e como está a aldeia do concelho de Manteigas que foi cercada pelo grande incêndio de 2022 e encontrámos gente resiliente, amargurada, à espera que a força da natureza brote e resista a todos os flagelos. E à espera que as promessas cheguem. Depressa. Porque já não têm tempo para esperar. E porque a Serra da Estrela merece muito mais do que palavras, merece a implementação dos planos desenhados. A população exige e a Serra da Estrela precisa que os plano de investimento na Serra aconteçam. Porque a Serra da Estrela não é apenas a maior de Portugal, é um mundo natural cheio de beleza, fauna e flora, que temos o dever de preservar e cuidar. Enquanto esperamos os milhões para recuperar o que o flagelo destruiu, homenageemos as pessoas, as que continuam a viver na comunidade serrana, nas aldeias e vilas deste imenso território natural que viveu o susto e o pânico do fogo de há dois anos, e os que ajudaram no combate ao fogo, em especial os bombeiros da região que abnegadamente continuam a sua missão.
PS: Parabéns aos Bombeiros Voluntários da Guarda pelos seus 148 anos.