Uma das funções do jornalismo é permitir que os cidadãos tomem decisões conscientes expondo a injustiça e o abuso de poder.
Para fazer bom jornalismo exige-se bons jornalistas com o dever de informar com ética, verticalidade, entrega, disponibilidade, denúncia, verdade, recurso a fontes e arquivos com credibilidade excluindo, em definitivo, a censura, o mimetismo, a suspeição, as montagens, truncagens sabendo sempre distinguir a “verdade” mediática do timing político e dos políticos.
Se assim não for estamos na presença de profissionais desonestos, neste tempo onde estão a vir ao de cima processos de fugas à justiça, faltas à verdade, exploração de cenas de crime, sexo, corrupção e historietas sem pés nem cabeça, sendo tudo isto armas consideradas infalíveis para garantir audiências e vender jornais.
A imprensa deve atuar de forma responsável, independentemente da simpatia e motivação devendo todos os factos serem relatados com objetividade e imparcialidade. Segundo Bordieu, «o que existe de mais terrível na comunicação é mesmo o inconsciente da comunicação», sendo percetível de que tanto se observar também se está a ser observado.
Se é certo que uma simples fotografia vale mais que mil palavras, quando ela não existe, é bom saber transmitir o quê e o porquê, pois aqui ninguém é considerado inocente (os alvos são específicos) e eventuais justificações serão sempre consideras hipócritas e resultam de uma visível motivação de quem publica. O jornalista deve narrar os factos com objetividade e imparcialidade, enquanto o cronista tem uma missão substancialmente diferente.
O cronista tem de analisá-los, em seguida organizar a sua própria crónica, dando a sua visão do evento, obrigando-se a mostrar e a demonstrar a relação entre factos e pessoas não ficando refém de uma imparcialidade, a que efetivamente não está sujeito.
A subjetividade pode estar presente. O cronista é, por excelência, cartesiano optando, na maior parte das vezes, pela polissemia que pode determinar vários tipos de leitura, retratando conceitos numa perspetiva contingente e algumas vezes transitória. Platão obriga-nos a distinguir a essência da ilusão e tudo é pensado em função do cidadão a partir do conceito político.
O político atual está nitidamente apaixonado pela aparente e ilusória verdade que vê nas sombras dos objetos refletidos na parede pensando imediatamente em algo concreto, esquecendo-se que a ascensão dialética, o exercício do poder tem de ter inerente uma filosofia coletiva, nunca pessoal, contemplando a essência das coisas. Só assim a urbe terá futuro.
Aristóteles definia-a como a ideologia onde se adiciona a racionalização e a tecnologia. Já Stefan Zweig afirmava que o mundo político era o mais superficial e o mais terráqueo, enquanto um outro amigo, na sua sábia cultura de cariz popular, dizia que ela se assemelha a uma porquinha parida onde os recos mamam alternadamente.
Distingamos definitivamente a essência da ilusão.