Tenho a ideia de um encontro que correu mal. Foi um dia na praia, lá por setembro, com nevoeiro e areia nos pés. Ela caminhava de máscara, devia ser em 2021, eu ia sempre descalço e apanhando a neblina com a boca entreaberta. Caminhava e falava como é costume. Só éramos dois na praia e o cão dela. Deserto porque havia névoa, deserto porque era cedo, deserto porque os outros dormiam. Ela protestou comigo e o cão ladrava. Olhei à volta e não vi ninguém. Era para mim que vociferava.
– A praia é tão grande! – Disse-lhe descontraído.
Se calhar não percebi, mas ela tinha-se aproximado e falado de modo agreste. Falou numa língua que não percebi. Olhei de novo para trás e vi como os dois se afastavam. Iam ligeiros, num passo corrido.
Voltamos a ver-nos na praia ao entardecer. Veio ter comigo e perguntou-me num inglês imaculado, com sotaque britânico, se era coincidência ver-me de novo.
– Sim menina, presumo que sim! Não a persigo nem sei quem é!
Ela estava desagradada. Referiu que já me tinha visto algumas vezes, que coincidíamos em lugares pouco movimentados e, portanto, gostava de saber se andava a segui-la.
– Descansada menina, não ando! Por infortúnio só hoje reparei em si! – Respondi com um sorriso.
Coincidência
“Ela estava desagradada. Referiu que já me tinha visto algumas vezes, que coincidíamos em lugares pouco movimentados e, portanto, gostava de saber se andava a segui-la.”