Quando olhamos para O INTERIOR e repetimos o gesto pela vigésima primeira vez, percebemos o quanto perdemos nestas duas décadas. Nada de novo. O esvaziamento do interior vem de trás, do tempo em que começou a urbanização da nossa sociedade.
Nessa urbanização sobressai o poder centralista e centralizador de Lisboa que está a matar o país e a criar um Estado dentro do próprio Estado. Lisboa é hoje uma espécie de cidade Estado, à semelhança da antiga Roma, e para além das suas fronteiras existe um mundo à parte onde sobrevive e resiste uma espécie humana que morre em hospitais onde não há médicos, que tem que pagar para circular nas vias de comunicação e onde as crianças são diariamente embarcadas em autocarros porque lhes fecharam as escolas. Tudo isto entre outras barbaridades que lhes fizeram.
É um mundo estranho aquele em que vivemos hoje, com elites políticas distantes das pessoas. Uma elite nacional que centraliza e governa para si e elites locais que facilitam a centralização porque se deixam engodar por uma espécie de (des) centralização encapotada. A partir daqui só se pode esperar maior declínio social e económico de todo o interior.
Ao olharmos para o ano de 2001, dizem-nos os Censos que no concelho da Guarda sobreviviam, naquela época, 43.759 almas, com um índice de envelhecimento de 144 jovens por cada 100 idosos, com um saldo natural negativo de mais 174 óbitos do que nascimentos e 9.164 alunos no ensino não superior.
Dez anos volvidos, dizem-nos os mesmos Censos que, em 2011, a população resiliente e residente neste mesmo concelho da Guarda tinha caído para 39.036 pessoas, que o índice de envelhecimento se tinha agravado para 199 idosos por cada 100 jovens, que o saldo natural estava pior com mais 219 óbitos do que nascimentos e que os alunos do ensino não superior tinham caído para 6.286.
Os Censos de 2021 estão em marcha e os respetivos resultados não constituirão surpresa. A única admiração será porventura a dimensão do agravamento de todos os indicadores demográficos do nosso concelho.
A falta de ambição é que determina esta realidade.
Apesar do esforço na redução da miséria, continuamos a ser um país profundamente desigual, com mais de dois milhões de pessoas em situação de pobreza e exclusão social. Mas coexiste em Portugal um outro estado de miséria que é determinado pela desigualdade territorial, que está à vista de todos, mas que teimosamente tem sido ignorado pelos sucessivos governos e governantes. Nestes territórios do interior a miséria social é ainda mais expressiva.
O PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) esteve em consulta pública quinze dias. Pouco tempo para debater um documento tão importante para o país e para o nosso futuro coletivo.
O (PRR) deveria servir, antes mais, para diminuir as desigualdades entre regiões e reforçar a coesão social e económica que só se pode fazer com o reforço da coesão territorial. Mas neste documento para o território nada se vê, para a economia e setor produtivo pouco há e o Estado glutão fica com a parte de leão, continuando assim um modelo de desenvolvimento económico estatizante, que só nos empobrece a todos e sobretudo ao interior.
Não pretendo ser alarmista, mas pior do que o alarme é a desvalorização do problema do interior. As desigualdades matam e não deixa de ser paradoxal que o nome pelo qual a ajuda financeira europeia é conhecida seja BAZUCA. Pela forma como foi estruturada, até pode vir a dar o tiro que faltava para acabar de vez com o interior.
Recentemente, também ainda houve esperança de que as regiões do interior pudessem beneficiar do imposto a pagar pela venda das barragens da EDP, mas elas nem imposto pagaram ao Estado.
Quando O INTERIOR comemora o vigésimo primeiro aniversário é chegado o tempo de se instituir o “Dia Nacional da Desigualdade Territorial” em Portugal.
Por paradoxal que pareça, é no interior que O INTERIOR se fortalece! Será por ser ele uma voz pelo interior?
* Presidente da Distrital do CDS-PP da Guarda