Astrofotografia nos finais do século XIX

Escrito por António Costa

“Este método permitia registar o espectro do Sol num eclipse e examinar posteriormente as linhas escuras. Tinha ainda a vantagem de facilitar o acoplamento de chapas ao telescópio tornando-se assim possível fotografar estrelas e nebulosas muito mais fracas em termos de luminosidade. Ampliando o estudo do espectro solar, a fotografia permitia ver o que o olho não captava: o comprimento de onda ultravioleta.”

Desde a antiguidade que se observa um forte vínculo entre os mitos e as cosmogonias de todas as culturas e as religiões quando se procura responder às interrogações acerca do mundo que nos rodeia. Com a chegada do método científico, ligado à explosão cultural do renascimento, começou a transição que nos conduziu das explicações míticas às científicas. O homem, por si só, podia compreender, mediante a observação e o próprio intelecto, os fenómenos da natureza. Progressivamente, foram-se racionalizando a física, a medicina, a geologia, a biologia entre outras. Para uma observação mais cuidada e precisa muito contribuíram os avanços tecnológicos dos instrumentos científicos.
Um dos casos com mais sucesso tem sido a aplicação da fotografia à astronomia. A sua utilização nesta área do conhecimento iniciou-se no estudo do Sol. Primeiro tiraram-se daguerreótipos, em 1845, em Paris. O daguerreótipo é considerado o primeiro processo bem-sucedido da história para tirar fotografias. Um daguerreótipo é formado por uma chapa de cobre fina e polida, revista a prata e com imagem fotográfica, constituída por gotas minúsculas de mercúrio a que se junta uma pequena quantidade de ouro. A criação de um método mais rápido, como a chapa húmida de colódio, permitiu fotografar as manchas escuras do disco solar a partir do Observatório de Kew, perto de Londres, em 1858. Mas ainda se tratava de um processo rudimentar que impunha grandes limitações.
A chapa seca de gelatina e brometo representou um grande avanço vinte anos mais tarde. Este método permitia registar o espectro do Sol num eclipse e examinar posteriormente as linhas escuras. Tinha ainda a vantagem de facilitar o acoplamento de chapas ao telescópio tornando-se assim possível fotografar estrelas e nebulosas muito mais fracas em termos de luminosidade. Ampliando o estudo do espectro solar, a fotografia permitia ver o que o olho não captava: o comprimento de onda ultravioleta.
Em 1882, produziu-se um facto histórico. O astrónomo escocês David Gill, com a ajuda de um fotógrafo profissional, conseguiu registar a imagem de um grande cometa no Observatório da Cidade do Cabo. Ao analisá-la, verificou que a placa continha não só o cometa com a sua grande cauda, mas também captara milhares de estrelas do fundo celeste, cujo estudo com o tradicional método ocular teria demorado semanas de observação noturna.

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António Costa

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