As escolhas das nossas vidas passam pelo voto

Escrito por Honorato Robalo

Mais uma vez tentam incutir que as próximas legislativas são para a eleição de um primeiro-ministro, quando efetivamente vamos eleger apenas três deputados de um universo de 230 para a constituição da próxima Assembleia da República.
No entanto, por mais que os casos envolvendo o primeiro-ministro e outros membros do Governo sejam reveladores da promiscuidade existente entre o poder político e os grupos económicos e de uma governação ao serviço de interesses particulares, não é a substância de que os eleitores deverão refletir para as suas escolhas.
A questão central via para além destes «casos e casinhos», por mais graves que possam ser (e são!), e desde logo para bem da saúde da democracia nem deveriam submeterem-se a sufrágio, mas saliento que o partido que fez 104 anos no passado dia 6 de março, o PCP, no seu último congresso referia o seguinte: «Portugal é hoje um país comandado pelo poder dos grupos económicos e das multinacionais». Ao afirmá-lo, não se re­feria apenas a negociatas obscuras e relações promíscuas, que existem (ou não fossem in­trín­secas ao ca­pi­ta­lismo), mas também às privatizações, às portas giratórias entre governos e conselhos de administração e às próprias orientações de política económica, em benefício dos de sempre. Sinais evidentes, em qualquer das situações, da captura do Estado pelos grupos económicos. Basta verificar ainda há dias a aprovação da expansão da exploração de Alvarrões pelos partidos habituais ao serviço do capital, mas também dos novos partidos da direita, CH e IL.
Mas o corolário de promiscuidade entre o poder económico e político já vem de longa data, o caso da Galp é exemplar. Privatizada desde 2006, a empresa detida maioritariamente pelo Grupo Amorim alcançou em 2024 lucros de 961 milhões de euros, os segundos mais elevados da sua história: maiores só mesmo os mais de mil milhões registados no ano anterior, que, por sua vez, tinham superado aquele que era, até aí, o «melhor ano de sempre» da petrolífera, em 2022, com 881 milhões de euros de lucros amealhados. Por mais que alguma imprensa económica, certamente “independente”, tenha destacado as “perdas” verificadas de um ano para o outro, nada apaga a realidade: os últimos três anos foram os mais lucrativos para a Galp, com proventos combinados de quase 3.000 milhões de euros. Os acionistas, claro, foram devidamente recompensados.
Entretanto, não passou sequer um mês desde o anúncio dos lucros para que se ficasse a saber que a Galp irá “atualizar” – leia-se “aumentar” – o preço da eletricidade e do gás natural (em cerca de 4% e 12%, respetivamente), ao mesmo tempo que o custo da botija se mantém elevadíssimo, mais do dobro do que é praticado na vizinha Espanha: a diferença chega a ser entre 16 e 36 euros. Tal como os combustíveis, a mesma empresa cobra mais 40 cêntimos por litro que em Espanha. Estamos aqui bem perto de confrontar os decisores para a realidade, quando chumbam sistematicamente as propostas do PCP para a redução para 6% o IVA na eletricidade e gás.
Não esqueçam que houve a abolição das portagens no passado dia 1 de janeiro, mas os pórticos mantêm-se intactos, devemos refletir também nas escolhas dos deputados, não esquecendo os que foram contra a abolição das portagens ao longo dos anos, o PCP nunca faltou às populações e aos trabalhadores.
A correlação de forças na Assembleia da República é determinante nas escolhas das nossas vidas. Que tem isto a ver com política? Tudo! As opções de liberalização dos mercados ou a recusa em fixar preços máximos, como há muito o PCP propõe, são opções políticas que servem a acumulação de lucros obscenos à custa das condições de vida das pessoas, da sustentabilidade de muitas empresas (os custos de contexto, como a energia, pesam muito mais do que os salários) e da economia nacional.
Nunca é tarde para mudar de rumo e de políticas, seria importante que a comunicação social fizesse um trabalho de investigação sobre a orientação da votação dos deputados eleitos pelo círculo eleitoral da Guarda nas diversas áreas da governação que têm implicações nas nossas vidas.

* Membro da Direção da Organização Regional da Guarda (DORG) do PCP

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Honorato Robalo

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