Há quem jure que a história se repete, embora haja sempre novas nuances. O sacerdote dos antigos lusitanos era um líder do templo pagão. O governante dos actuais portugueses é um líder do tempo do apagão. Em comum, uma forte crença num mundo transcendental, que só existe nas suas imaginações e fora da realidade, e uma capacidade inigualável de deixar o povo embasbacado com truques de magia. O druida, com ervas. O primeiro-ministro, com PowerPoint.
Também nos pedidos de ajuda a entidades sobrenaturais, a diferença não é grande. Às crendices do paganismo pré-romano sucede-se o contemporâneo “paga-me isto o PRR, mano”. Os chefes das tribos locais, antes como agora, trocavam prendas entre si, mas segundo as cantigas de mal-dizer, há uma ligeira sensação de que as oferendas de azevinho e pele de carneiro estão mais em desuso hoje do que na idade do bronze.
Para os nossos governantes contemporâneos, pagar e apagar são as duas faces da mesma moeda – sim, o trocadilho é mesmo propositado. Segundo a mitologia actual, não há nada a acontecer. E se houver, não é para se ver. E se for visto, não é para entender. E se for possível entender, não é importante falar nisso. E se alguém não conseguir ficar calado, há sempre um avião que leva o novel sacerdote do apaganismo para bem longe, de preferência para os antípodas.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia