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“As desgraças que este ano nos reserva, da educação à economia, deviam ser impedimento para desejos sinceros de felicidades vindouras. “

Quando começa um novo ano, os desejos de felicidades para os doze meses que se seguem são um ritual de comunicação. No entanto, só são aceitáveis porque são meramente decorativos. Se fossem sinceros e genuínos, não seriam felicitações, mas sim apenas arrogância. É preciso ter muita mania para desejar um ano feliz a quem está na idade de idas semestrais ao médico, a quem não vive no mesmo país onde o (ainda) Primeiro-Ministro julga viver, e a quem nem o Sporting nem a selecção darão as alegrias mínimas de satisfação de ganhar qualquer coisinha.
Além disso, corremos o sério risco de terminar este ano com Pedro Nuno Santos em S. Bento, António Costa na Europa, António Guterres na ONU e Donald Trump no universo. Perante isto, dizer a alguém, “Feliz 2024” só pode ser considerado um vitupério ou uma imensa soberba. As desgraças que este ano nos reserva, da educação à economia, deviam ser impedimento para desejos sinceros de felicidades vindouras. No máximo, aos bons amigos, pode desejar-se um ano que não seja mau de todo. Por exemplo, alternar duas desgraças com um facto positivo pode ser uma média aceitável, especialmente para os tempos que vivemos e a idade que vamos tendo. Aos mais jovens, desejo uma proporção diferente: uma coisa boa por cada três desgraças mais uma tragédia, porque na idade deles, é tudo muito exagerado. Na adolescência, uma borbulha no nariz é o pior acontecimento de sempre, que o universo só poderia equilibrar com a vitória da Ucrânia – essa sim, a melhor notícia que 2024 poderia trazer.
Na crónica da semana passada manifestei aqui uma preocupação com a possibilidade de os espectadores de um “reality show” darem a vitória a um rufia intriguista armado em Calimero. Como isso acabou mesmo por acontecer, a única esperança que ainda nos resta é que as pessoas que votam para o “Big Brother” sejam as mesmas que se abstêm nas legislativas.
A todos os leitores habituais do Observatório de Ornitorrincos, desejo sinceramente um 2024 muito razoavelzinho. Aos que leram esta crónica totalmente por acaso, um feliz 2024 com o “Correio do Ribatejo”.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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