A cultura é um processo dinâmico ligado às transformações histórico-sociais, privilegiando análise em diversas áreas, que podem e devem ser discutidas/articuladas com as artes, a História e a comunicação.
A cultura (felizmente) não é estática. Envolve princípios, valores, usos, costumes, práticas, conhecimentos, representando um valor médio de 6,5 mil milhões de euros. Mais de 20 milhões de pessoas assistem anualmente a espetáculos de índole cultural. Os municípios investem qualquer coisa como 500 milhões de euros neste setor.
O processo cultural, tal como todos os setores da sociedade, foi interrompido por esta pandemia, que teima em persistir. Dando uma vista de olhos, salta-nos à vista que, com esta paragem forçada, a cultura foi aquela que mais sofreu. E isto, daqui para a frente tem de dar a volta, tem de mudar.
Numa perspetiva de curto/médio prazo teremos de avançar para a (re)criação de diversos instrumentos que dinamizem o setor, integrando toda a chamada sociedade civil, com o objetivo de criar dinâmica, gerando confiança e desenvolvendo atividades que visem a oferta de bens culturais em apostas sustentáveis e credíveis.
E se o Estado é indiscutivelmente o motor, nem sempre é o melhor administrador. Futuramente o modelo a seguir deve ter em conta o contributo crítico do estado da cultura neste interior profundo, onde não é alheia a malfadada candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura.
Num diálogo permanente entre os decisores políticos e agentes culturais perceber-se-á que a tal visão centralizada deve ser abandonada, pois se assim não for iremos assistir novamente às benesses, simpatias e entrega de tachos (alguns bem chorudos) a “boy’s” e “girl’s”, onde a hipotética competência se sobrepõe a uma qualquer pseudo-estratégia que só leva ao fracasso e a uma oferta descabida, desajustada, de quem olha para a cultura de forma arrogante, sobranceira e, do alto de sua nuvem imperial, aposta no snobismo saloio, extremamente limitado, pouco se importando com todos os outros projetos de agentes e associações.
Nesta matéria convém ainda apurar gastos, são mais que muitos, com projetos que poucos ou (quase) ninguém conhece, perceber se dá para aproveitar alguma coisa, das centenas de milhares investidos em contratos milionários onde apenas se verifica a existência de uma visão oportunista e mercantilista de todo o processo.
Dito isto, é absolutamente necessário e indispensável apurar responsáveis e responsabilidades, isto porque o regabofe foi mais que muito. O virar da página é indispensável e obrigatório numa adaptação a um novo paradigma. Para tanto é necessário percebermos quem somos, onde estamos, o que sabemos, para onde queremos e podemos ir, qual o projeto coletivo a concretizar e, depois sim, conscientes que a mudança é racional e possível, far-se-á numa participação empenhada inserida num projeto que todos, sem exceção, iremos abraçar neste futuro dinâmico e interessante para este interior profundo.
Já agora é tempo de assentar, dialogar, apresentar e discutir projetos. É tempo da CIMBSE (Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela) assumir a aposta cultural como verdadeiro desafio para o interior. Os agentes e associações culturais estão prontos e prontas para este novo desafio. Se assim o entenderem, se assim quiserem e se tiverem vontade (política)… Vamos a isso.
Amnésia de fixação…ou um outro desafio cultural
“Dando uma vista de olhos, salta-nos à vista que, com esta paragem forçada, a cultura foi aquela que mais sofreu. E isto, daqui para a frente tem de dar a volta, tem de mudar.”