Sem grandes delongas, que o tempo é curto, e vai ser necessário pensar em quem votar depois do Ano Novo, fica a clarificação: não aprecio e não respeito essa festividade a que agora chamam “halloween”.
Não me julguem mal, não tem nada a ver com as manias das apropriações culturais. Ao contrário das sensibilidades periclitantes do neo-esquerdismo, eu aprecio apropriações culturais e os seus resultados posteriores. Bons exemplos de consequências admiráveis destes processos são o jazz francês, a língua portuguesa ou a pornografia árabe.
Misturas culturais são boas, na cozinha, na sala ou no quarto. (Esta crónica arrisca-se a ir parar direitinha aos ficheiros do SOS Racismo, da Comissão para a Igualdade de Género, ou a uma contra-crónica de algum maluquinho radical defensor da igualdade – mas igualdade apenas no sentido em que só tolera opiniões iguais às dele.)
Entretanto, quem celebrou o “Halloween” à bruta e à americana – passe o pleonasmo – foi a política portuguesa. No Governo, disfarçaram-se de vítimas do orçamento, mas curtiram como crianças lambuzadas de chupa-chupas. No PCP e no Bloco vestiram-se de mortos, veremos o funeral que os espera. No PSD, o Feiticeiro quer que o Estrumpfe Esperto não o empurre antes do desfile de Carnaval (também conhecido por campanha). No CDS jogaram aos “doces ou travessuras” e por cada caramelo atirado à cara do miúdo que toma conta da casa, este pregava uma partida. Ora muda reuniões, ora adia congressos, ora anula eleições. Já nos partidos pequenos, disfarces minimalistas são suficientes. Botões de punho na Iniciativa Liberal e botas cardadas no Chega já fazem uma festa de arromba.
Finalmente, o Grande Mágico de Belém, uma espécie de bruxa alcoviteira com estudos avançados em Hogwarts, sacou da sua apetência por travessuras e atirou-nos o maior doce de todos: a possibilidade de nos vermos livres de Costa e dos seus acólitos.
À conta das eleições antecipadas, vamos juntar a palermice do “Halloween” com o ridículo do Carnaval e passar dois meses em desfiles, sustos e palhaçadas. Que saudades do futuro.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia