Recentemente, fiz o percurso entre o Pocinho e Barca D’Alva e é uso dizer-se que “vale mais uma imagem do que mil palavras”.
Por isso, as imagens recentes que eu retenho na minha memória valem milhares de palavras e mais as poucas que vou escrever sobre a linha de caminho de ferro que liga o Pocinho a Barca D’Alva. Uma linha que vai para além do que é nosso e permite transpor fronteiras, ligando-nos a Espanha.
Uma linha de caminho de ferro que ladeia o rio Douro e serpenteia entre paisagens deslumbrantes. Paisagens essas que são um dos melhores ativos turísticos e económicos do nosso país.
Paisagens que têm sido humanizadas pelo esforço dos privados, que aí têm investido suor e euros procurando transformar um contexto de pobreza numa realidade de riqueza. E o que tem feito o Estado? Nada!
Teria o Estado português dinheiro para construir esta grande obra de engenharia que é a linha de caminho de ferro de Barca D’Alva, nos tempos de hoje? Não, não teria, pois seriam necessários 163 milhões de euros para construir esta via férrea e esse é um dinheiro que não está disponível.
E um Estado, que não tem dinheiro para investir e desenvolver o interior, o que faz com as infraestruturas que outrora custaram muitos milhões de escudos e o esforço de milhares de portugueses, que ali trabalharam e ganharam o seu pão?
Este Estado, que é o Estado português, abandona pura e simplesmente esta infraestrutura, votando-a ao declínio e à desvalorização, o que diz bem do estado a que o nosso Estado chegou. Essas imagens da minha memória recente encerram em si mesmas todas as palavras que podem ser ditas sobre o abandono do interior.
Este é um Estado que nem faz, nem deixa fazer e até parece ter raiva de quem faça. Este Estado assim é um Estado incompetente. Um Estado inconsciente e negligente.
Seremos capazes de imaginar a mais-valia que esta infraestrutura, em funcionamento, para aproveitamento turístico e outros fins, significaria para esta deprimida região que delimita a Norte o distrito da Guarda?
Claro que somos capazes de imaginar as dinâmicas económicas que uma decisão de reativação da linha Pocinho-Barca D’Alva traria para toda aquela região. Dinâmicas económicas essas que parecem incomodar quem nos (des)governa lá para as bandas do Terreiro do Paço.
Sabemos que não há dinheiro para investimentos públicos na ferrovia, mas também não queremos que, não havendo esse mesmo dinheiro, daqui surja mais uma PPP para nossa maior desgraça.
Queremos, isso sim, que o Estado que não faz porque é incapaz ou porque não quer, que deixe fazer quem sabe e que concessione a privados que saibam e queiram dar vida a este ex-libris do Alto Douro.
As decisões nem custam dinheiro, custam apenas vontades. Quem sabe fazer, faz e o que faz falta neste país é o que é preciso fazer e que pode ser feito.
Por: Henrique Monteiro
* Presidente da Distrital do CDS-PP da Guarda