A violência leva sempre a mais violência…

” A guerra e a morte não podem ser legitimadas, mas se até agora olhávamos para os palestinianos como as vítimas da força israelita, agora, os falcões de Israel não irão parar e vão reagir «em conformidade» – violência leva a violência!”

O nascimento do Estado de Israel, na sequência da adoção de uma resolução das Nações Unidas, em 29 de novembro de 1947, teve o objetivo de garantir um território de segurança ao povo judeu. Estado inventado por decreto, no dia seguinte ao seu nascimento foi invadido pelos árabes vizinhos que se opuseram ao suposto direito natural dos judeus de viverem na terra prometida. E desde que nasceu Israel vive em guerra constante com os seus vizinhos… Ao longo da sua história houve momentos de aproximação entre israelitas e palestinianos (de que o Acordo de Oslo, em 1993, entre Israel e a OLP-Organização de Libertação da Palestina foi o momento mais aclamado), mas o conflito faz parte da vida dos povos da terra bíblica.
Israel sobreviveu até agora pela força, pela resistência e pelo apoio internacional. Mas o conflito israelo-palestiniano, apesar dos muitos acordos assinados, nunca deu lugar à paz. Se durante anos Israel conquistou admiradores pelo desenvolvimento, a democracia, a tecnologia ou a agricultura, a forma como ocupou os territórios circundantes, a ocupação da Faixa de Gaza, da Cisjordânia, a península do Sinai ou as colinas de Golã, pela força e terror levaram a que a reação fosse sangrenta.
Com um governo extremista, com os ultraconservadores a chegarem ao poder, Israel alimentou o ódio que os defensores da causa palestiniana têm pelos judeus. Os fanáticos do Hamas prometeram a destruição do Estado hebraico. E uma noite de festa e dança em Israel tornou-se num massacre – os guerrilheiros do Hamas invadiram o recinto de um festival de música, dispararam indiscriminadamente contra a multidão indefesa. Com surpresa e espanto, Israel sofreu um ataque terrorista como nunca ocorrera na sua história e que a famosa capacidade militar não soube antecipar. Um ataque sem regras, sanguinário, e mesmo os que sempre estiveram do lado da causa palestiniana têm de condenar – porque a barbárie não pode ser tolerada, e o ataque perpetrado pelo Hamas em Israel é uma chacina inaceitável.
A forma como Israel agredia os seus vizinhos não justifica, não pode justificar, o ataque bárbaro e criminoso num recinto de festa e a violência com que o Hamas atacou indiscriminadamente Israel. Ao longo de 75 anos nunca os inimigos de Israel atacaram e mataram desta forma, nem quando esteve em guerra e foi atacada pelos países vizinhos. Mas este ataque que vitimou tanta gente indefesa legitima junto de muitos moderados a reação israelita e determina a escalada belicista e violenta da resposta. A guerra e a morte não podem ser legitimadas, mas se até agora olhávamos para os palestinianos como as vítimas da força judaica, agora, os “falcões” de Israel não irão parar e vão reagir «em conformidade» – violência leva a violência! À noite violenta de sábado ião seguir-se muitas noites de guerra e morte…
A escalada de extremismo israelita e o fanatismo do Hamas destruiu todas as possibilidades de aproximação e paz e toda a política internacional vai ter nuances: a guerra da Ucrânia deixa de estar nos holofote dos media, Putin vai recuperar a sua posição no apoio aos árabes, os americanos vão apoiar Israel e abandonar a Ucrânia, o Irão vai liderar o apoio aos árabes fanáticos e impedir qualquer possibilidade de paz, o petróleo vai ser muito mais caro e os moderados foram derrotados e serão ostracizados no cenário de guerra em que Israel se irá transformar nas próximas semanas. Este ataque em grande escala acontece poucos dias depois de ser confirmado que a Arabia Saudita estava cada mais perto de normalizar relações com Israel – que poderia implicar uma mudança radical no relacionamento do Estado hebraico com os países árabes e que poderia levar paz à região; o Hamas mata no terreno e mata a possibilidade de paz na região. A enorme crise em que vivia a democracia israelita, com os extremistas a chegarem ao poder, e com os fanáticos religiosos no poder em Gaza, tem este resultado: o mundo ficou muito mais perigoso.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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