Há no discurso político em geral uma falta de autenticidade. A realidade é muitas vezes descrita com palavras de sentido equívoco. Como que escrita para autorizar todos os abusos. Chamam-se aos factos aquilo que não são. Descrevem-se circunstâncias que não eram o que deveriam ser. Prometem o que sabem não poder garantir.
As palavras são de uma submissão e uma docilidade que fazem envergonhar o contribuinte. É esta a inquietação maior das novas gerações preocupada pela distância entre o mundo apregoado e o mundo real. Faz falta uma cultura ética que recomende aos políticos a humildade desde o princípio do caminho, que aceite os erros e os acertos com naturalidade.
O discurso é sempre muito crítico para o passado. De erro em erro, assim lhes parece ter tudo acontecido. Mais do que para governar, estão ali para julgar. O dedo em riste é uma doutrina. Sobretudo para dizer o que os outros deveriam ter feito. Sempre depois, nunca antes.
Se lhes falam em exigências novas respondem uma coisa com a outra. As políticas dos outros erradas. A nossa austeridade boa. Para o futuro esperam que aconteça de outro modo mesmo que as evidências trabalhem contra as vontades. Fingindo não saber.
Todavia às petições novas opõem sempre condescendências velhas. O poder tende a distribuir as palavras como dádivas. Esperando no mínimo uma concordância agradecida. Um aplauso visível. O vazio do discurso surpreende pela ousadia e a banalidade das medidas prometidas transforma-se pela força da propaganda em originalidades.
A opinião publicada aprisionada na sua liberdade pelo favor é cúmplice por omissão. E assim. a reboque dos acontecimentos e enganados pela propaganda, vamos vivendo sem desígnio até ao fim do possível. Porque tudo tem um limite.
* Antigo presidente da Câmara de Trancoso e presidente da mesa da Assembleia Distrital do PSD